O torcedor
Se bem me lembro, a primeira vez que fui ao Pacaembu foi para assistir a um jogo entre o São Paulo e o Palmeiras. Eu era menino e fui levado pelo meu irmão, já falecido. O estádio do Pacaembu era muito diferente a começar pela concha acústica que, mais tarde, foi substituída pelo atual tobogã.
São Paulo também era outra cidade, mais provinciana, menos cosmopolita. Os bondes circulavam nas ruas e recolhiam-se, tarde da noite, à estação da Vila Mariana que se localizava um pouco à frente de onde hoje está a Estação Ana Rosa do metrô. Velha cidade! O Paissandu figurava como ponto chique com seus cinemas e restaurantes. Num deles vi certo dia, o cantor Agostinho dos Santos, ídolo na época. Noutra ocasião, por ali circulava Paulo Autran, então jovem e arrogante, atraindo as atenções dos passantes.
Nada de torcidas organizadas, nada de depredações e grandes brigas. Amava-se o futebol com paixão, mas respeitando-se a arte inclusive a dos adversários. Gostava-se do jogo, simplesmente.
Pois revi um pouco desse respeito ontem à noite quando assistia o noticiário sobre a contusão de Rogério Ceni, do São Paulo. O grande goleiro foi operado no Hospital do Coração e ficará seis meses afastado do futebol. Na porta do hospital, alguns torcedores que vieram dar apoio ao ídolo. Entre eles, um corintiano que foi abordado por um repórter. Perguntado sobre o porquê da sua presença o corintiano explicou que viera ali para torcer pela recuperação do craque do time adversário. Rivalidade à parte, entendia que o próximo jogo entre o Corinthians e o São Paulo não seria o mesmo sem a presença de Rogério Ceni.
Quem disse isso foi um rapaz para quem, acima de tudo, está a paixão pelo esporte - como aliás deve ser. Olhando-o em sua simplicidade pareceu-me que ele estaria fora do lugar, talvez de época. Não por acaso fechei os olhos e completei as imagens da televisão com outras da minha memória. Então o rapazinho atravessou a rua, entrou num bonde elétrico e desapareceu numa cidade que não mais existe.
Grande Ayrton, entrei só agora e estou me deliciando com os textos. Um grande abraço e espero voltar sempre. Delgadão.
Marco Antonio
19, 19America/Recife abril 19America/Recife 2009 às 22:24