Os limites da conduta
Existe certo consenso em classificar como normal aquilo que é mais freqüente. Admitindo-se isso como válido é de se perguntar o que é normal e esperado diante de certas situações do cotidiano.
A atual greve de trens no Rio de Janeiro nos conduz ao epicentro de uma crise complexa. Os fatos são conhecidos: o sindicato dos ferroviários declara greve; a população que se serve dos trens é tremendamente prejudicada; os responsáveis pelos trens esforçam-se em restabelecer os serviços, obviamente sem conseguir atender todas as necessidades do público.
Eis aí mapeado o território de situação potencialmente explosiva. E acontece: plataformas e trens superlotados, passageiros impedindo o fechamento das portas. A partir daí assistimos a imagens impressionantes de seguranças chicoteando passageiros para tornar possível o fechamento das portas.
A imprensa mostra imagens das agressões e as classifica como injustificáveis; um dos responsáveis pelos serviços de trens afirma que o sindicato é confuso e o responsabiliza. Mais: sem justificar as agressões e garantindo que não é essa a norma da companhia, destaca que é crime impedir o fechamento das portas e que os que ficam ali, provocando os seguranças, são bandidos.
Onde a razão? Que condutas seriam esperadas? As imagens são de fato chocantes, há pessoas sendo chicoteadas, algumas esmurradas. Há também passageiros provocando seguranças.
O trem parte. Em cima de um vagão, três moleques que seguem de carona. Em primeiro plano um homem sorrindo, aparentemente alheio a algo a que já se habituou.
No fim fica-se com a impressão de que na rotina dos envolvidos a encrenca é freqüente, convive-se com limites de conduta mais elásticos e tudo passa por ser normal, parte do cotidiano.