Adeus à Copa
Não vi inteiro o jogo em que o Brasil foi derrotado por 3 X 0 pela Holanda. Vez ou outra ligava a televisão para ver como iam as coisas. Por azar numa das vezes liguei justamente na hora do terceiro gol do time holandês. Ao ver a expressão gravada na face dos jogadores brasileiros não pude deixar de sentir pena. Pena deles e de nós todos que acreditávamos tanto.
Nós que acreditávamos tanto. Nós que confiávamos na nossa tradição. Nós que nunca deixamos de nos considerar os melhores. Nós que sempre soubemos que em nenhum lugar do mundo se geravam craques como na nossa terra. Nós que viramos piada no mundo. Nós que estamos encabulados, envergonhados, mais que isso: muito tristes. Tristíssimos.
Depois da catástrofe diante da Alemanha tentei me apegar no que escreveu um jornalista. Dizia ele que sofríamos em vão. A seleção não é do país, ela pertence a uma organização particular chamada CBF que ganha muito dinheiro com o futebol e quase nada faz por ele. Os jogadores que vestem a camisa verde-amarela jogam no exterior e ganham rios de dinheiro. O técnico passou os últimos meses fazendo comerciais de TV e ganhando grana grossa com isso, além do salário pago pela CBF. Então - perguntava o jornalista - o que tem o país a ver com isso? Mais: e eu o que tenho a ver com isso?
Consegui me apegar a esse discurso e dei de ombros para a derrota do Brasil. Achei que de fato eu não passava de trouxa por levar a sério algo profissionalmente muito rendoso independentemente dos resultados. Infelizmente tudo isso só serviu para que eu me afastasse da derrota por breve período. Logo me voltaram imagens de nossas grandes seleções e da glória de nossos grandes craques do passado. Daí para a vergonhosa queda diante da Alemanha foi um passo.
Neste momento muita gente está escrevendo ou dizendo alguma coisa sobre o futebol brasileiro. Fala-se sobre a necessidade de renovação. O governo fala em interferir depois volta atrás. Espera-se que o técnico Felipão peça demissão, mas ele não parece não se dar por achado.
O fato é que estamos em crise. De repente passa-se a perguntar se no país já não nascem craques como antes. Teria passado para sempre a fase em que o Brasil era a pátria do futebol?
Não sei durante quanto tempo conviveremos com essa enorme ressaca. Mas, nada como o tempo para cicatrizar feridas. Devagarinho nos esqueceremos do amontoado de jogadores pedidos dentro do campo, correndo para todo lado sem obedecer a um esquema tático. Vai ser difícil tirar da cabeça os gols da Alemanha, aqueles sete gols.
Mas, na vida tudo passa. Quem sabe em futuro não muito distante nós ainda voltaremos a acreditar no futebol do país.
Esses rapazes que perderam hoje para a Holanda não avaliam a dimensão do mal que fizeram à sempre trêmula confiança dos brasileiros.