Aos mísseis
Nasci no pós-guerra e sempre ouvi que a minha geração tivera a sorte em não crescer num mundo dominado pela barbárie. Entretanto, os reflexos da guerra travada na Europa permearam a minha juventude. A Guerra Fria que dividiu o mundo em dois blocos durou até a queda do muro de Berlim. Ditaduras miliares às quais o uso da violência figurava como necessário até hoje despertam reações tal o número de casos não resolvidos. Forte esquema repressivo impunha aos cidadãos brasileiros cuidados extraordinários ao tempo de minha juventude.
Tudo o que está acima contribui para uma constatação: o homem não aprende. Se a experiência do passado de nada ou pouco vale para que se busque equilíbrio e paz duradoura o que se pode esperar é mais guerra e mais barbárie.
Daí que não é de se estranhar o que acontece na Ucrânia e no conflito entre Israel e o Hamas. Na Ucrânia vicejam as disputas locais infelizmente coroadas com a derrubada de um avião comercial pelo lançamento de um míssil. Trezentas pessoas morreram na explosão e uma chuva de corpos e pedaços marcou o terrível epílogo do ataque. O mundo protestou, é verdade. Mas, ainda hoje procuram-se culpados, ninguém foi punido e, sinceramente, não se acredita que alguém venha a pagar pelo crime que ceifou tantas vidas.
Não bastasse o caso ucraniano eis que se prolongam os combates na Síria sobre os quais as notícias já não são tão frequentes. Trata-se de uma revolução que já passou à rotina porque parece insolúvel, prosseguindo à custa de muita dor, sofrimento e perdas de vidas.
Que dizer dos distúrbios na Faixa de Gaza onde são despejados, diariamente, mísseis enviados por Israel? E dos mísseis disparados pelo Hamas em direção a Israel? De repente os mísseis israelitas caem uma escola matando crianças. O mundo protesta. Carnificina! Combina-se uma pausa humanitária de 72 horas. Depois disso, aos mísseis.
Há 100 anos estourava a Primeira Guerra Mundial que esperava-se curta, mas resultou na morte de milhões de pessoas nos seus quatro anos de duração. A Segunda Grande Guerra consolidou-se como tragédia irreparável nela acontecendo o Holocausto. Ao tempo da Guerra Fria as divergências entre os EUA e a Rússia por pouco não levaram ao início de uma guerra nuclear.
O homem é um ser belicoso, não adianta negar. Mas, talvez, com algum esforço pudessem ser evitadas tantas mortes desnecessárias.