Bola de gude
Sonhei que jogava bola de gude. Sei que existem várias maneiras de realizar o jogo. O que eu jogava nos meus tempos de menino consistia em percorrer quatro covas, três delas em linha reta e a quarta disposta lateralmente. As quatro covinhas dispunham-se formando um L.
O jogo consistia em fazer um percurso de ida e volta no qual o jogador tinha que acertar a bolinha em cada cova com direito a atacar a bola de seu adversário, jogando-a para longe das covinhas de modo a dificultar o acesso dele a elas.
Passavam-se horas nesse jogo inocente que, entretanto, exigia destreza e muita habilidade. Eu tinha as minhas bolinhas prediletas, no tamanho adequado ao encaixe nos meus dedos. Por vezes a molecada organizava campeonatos e não me lembro de ter vencido nenhum. Mas, não fui tão mau jogador, havia sempre uns “patos”, costumeiros “fregueses” dos quais ganhava sempre. Fosse aquela uma classificação como a do atual Campeonato Brasileiro eu ficaria nomeio da tabela, longe dos extremos.
Não sei se ainda se joga com bolinhas de gude. Talvez sim nos interiores desse imenso Brasil. Hoje em dia a molecada tem ao alcance das mãos computadores e tabletes que oferecem jogos variados. Isso sem falar nos Xbox e outros consoles cujos jogos apaixonam milhares de pessoas em todo o mundo. A cada ano surgem novas e mais apuradas versões de jogos famosos que são produzidos e lançados com estardalhaço. Fiéis seguidores mal podem esperar a hora de adquirir novas versões e atravessar madrugadas tentando passar de uma fase a outra.
O último jogo eletrônico que tentei jogar foi o ATARI. Não me senti atraído pela perfeição das imagens dos jogos atuais, nem mesmo pelas inteligentes armadilhas propostas aos que os enfrentam. Pelo que me sinto um dinossauro quando vejo crianças e adultos entretidos com esses jogos elegantes e misteriosos.
A verdade nua e crua é que sou mesmo do tempo da bolinha de gude. Que prazer experimentei no meu sonho ao jogar contra um adversário habilidoso do qual ganhei a partida.
Dizem que o menino que um dia fomos nunca morre. Ele até pode ser soterrado e esquecido pelo adulto em função da vida agitada que em geral levamos. Mas o menino continua lá, no fundo da memória, ágil e pronto a reviver sensações simples, mas deliciosas, como essa de um jogo de bolinhas de gude.