Melhor não olhar para trás
Não é conselho, nem palpite, trata-se de sugestão: se puder não olhe para trás. Deixe os acontecidos no território do esquecimento. Aí vem alguém e diz: mas, devo me esquecer das coisas boas que me aconteceram, dos momentos felizes, das mulheres que amei, de tudo enfim?
Pois é. O problema é que uma lembrança leva a outra, das felizes passa-se às infelizes e vice-versa. Então por que cutucar a memória, tornar a sofrer pelas perdas antigas, recordar desenganos? Há quem diga que temos mais propensão a curtir aquilo que não deu certo de coisas que se traduziram em realizações. Talvez não seja assim com todo mundo, mas a afirmação não é sem sentido. Agora se você consegue se fixar só nas boas lembranças deixe para lá esse papo careta.
Penso nisso agora que a disputa política se torna cada vez mais acalorada e acusações brotam de todos os lados. De repente a candidata Dilma acusa a candidata Marina de ter o plano, caso vença as eleições, de acabar com o Bolsa Família. A candidata Marina reage, nega e acusa os adversários de mentirem. Para confirmar que não vai dar fim ao Bolsa Família a candidata Marina evoca o seu passado. Ficamos sabendo que na infância a mãe dela dispunha de um único ovo para alimentar os filhos. Passavam fome, portanto. E os jornais publicam fotografias da menina Marina, vivendo em condições paupérrimas ao lado da família. No fim a candidata garante: quem já passou fome nunca vai acabar como Bolsa Família.
Imagino a dor e o constrangimento de trazer a público tais revelações. Imagino o exercício de superação exigido para expor o passado publicamente, tudo em nome da busca de uma vitória eleitoral. Ou não?
Cada um de nós tem em seu passado uma mistura de coisas alegres e tristes às quais nem sempre é recomendável voltar. O que vale, dizem os técnicos de futebol, é bola para frente. Portanto, se conseguir não olhe muito para trás. Há sempre o futuro pela frente, quem sabe um futuro de muitas vitórias e satisfação, quase nenhuma perda ou tristeza.
Sei lá.