Cabeça de suicida
Estima-se que no Brasil 25 pessoas se suicidem por dia. Verifica-se que tem havido aumento da frequência de suicídios entre os jovens. Segundo a OMS (Organização Mundial de Saúde) 1 milhão de pessoas suicidam-se a cada ano em todo o mundo.
Face a tais preocupantes números em muitos países programas de saúde pública incluem medidas de prevenção de suicídios. No Brasil existe um manual dirigido a profissionais de saúde: Prevenção do Suicídio - Manual dirigido a profissionais das equipes de saúde mental. Nesse manual apontam-se os fatores de risco em relação a suicídios: transtornos mentais, sociodemográficos, psicológicos e condições clínicas incapacitantes. O conteúdo do manual relaciona-se à análise pormenorizada desses fatores.
Acho que muita gente já teve proximidade com algum caso de suicídio. Em meu trabalho tive um colega que certa vez me contou uma história interessante para justificar a sua rouquidão. Contou-me ele que fazia uma limpeza no ralo da cozinha de sua casa e colocou sobre a pia um copo com soda que iria usar como desentupidor. Aconteceu a ele distrair-se e ingerir o conteúdo do copo num momento em que teve sede. Obviamente, ele não morreu dado estar ao meu lado narrando a tragédia pela qual passou. A soda corroeu parte de alguns órgãos internos, mas o meu colega conseguiu se salvar após muito sofrimento.
Quando ouvi essa história estava na sala um outro colega que permaneceu em silêncio. Depois que o homem que bebera soda se foi o outro colega me disse: ele sempre conta essa história, mas na verdade tentou se suicidar.
Anos mais tarde vim a saber que o homem que bebera soda finalmente dera cabo de sua vida metendo uma bala na cabeça. Pensando bem o suicídio dele era esperado dado que nunca se recuperou da separação da mulher e do distanciamento dos filhos. Não sei dizer se em algum momento houve algum tipo de socorro psicológico a esse homem que ficou de mal com a vida e jamais se harmonizou com ela depois disso.
Tive um grande amigo como qual convivi durante alguns anos sem saber do passado dele. Era ele procurado por atos que cometera contra a ditadura militar no país. Só depois de 1985, com a abertura política e redemocratização do país vim a saber que ele vivera com o nome trocado etc. Depois disso passei alguns anos sem vê-lo até que recebi a notícia de que ele havia se suicidado. Apaixonara-se por uma moça que o rejeitara e cometera a loucura de esperá-la num estacionamento onde a matara e depois se suicidara.
Não sei o que se passa na cabeça de um suicida no momento em que finalmente se decide ao ato estremo. Em relação ao amigo que se suicidou confesso que a par de ele ser um homem de ação jamais notei nele qualquer tendência ao suicídio. Era um homem culto e gostava das coisas boas da vida.
Hoje a “Folha de São Paulo” publica reportagem sobre uma mulher que foi surpreendida no momento em que ia se atirar do alto de um trecho da linha do metrô. Dois anjos a salvaram: um homem que parou o trânsito e se pôs a gritar para que ela não se atirasse e um segurança que conseguiu chegar a tempo para retirá-la do ponto onde se encontrava.
Um repórter presente no momento em que tudo ocorreu fotografou o episódio. Era uma mulher bem vestida e certamente desesperada. Que tipo de filme se passaria na cabeça dela no momento em que assomou a beirada dos trilhos do metrô e se dispôs a dar adeus a esse mundo?