A lógica dos debates
Com quem está a verdade? Se o que nos interessa é conhecer a verdade fica-se em situação desconcertante quando declarações diametralmente opostas querem-se verdadeiras. Tomando-se a verdade como aquilo que é correto, sincero e dentro da realidade apresentada conclui-se que no caso das opiniões diametralmente opostas apenas uma delas corresponde ao que é verdadeiro. Será sempre assim?
Quem assistiu ao debate entre Guido Mantega e Armínio Fraga pode presenciar visões opostas sobre a conjuntura econômica de momento. Desde já encareça-se que ambos mostraram certeza inabalável de estarem em acordo com a verdade, ou seja, nenhum dos dois mentiria.
Para Mantega, atual Ministro da Fazenda, a economia do país enfrenta dificuldades devido à crise externa. No cenário mundial as economias estão em retração e o Brasil, apesar disso, cresce, embora em ritmo lento, mas seguro. Mantega critica os relatórios do FMI e posionamentos que dão conta da paralisação econômica do país.
Armínio Fraga, futuro Ministro da Fazenda caso Aécio Neves se torne presidente, afirma que a crise econômica mundial aconteceu em 2009. A elevação da inflação, o PIB baixo e a desaceleração da economia se devem a fatores internos.
Resumidamente, nos dois parágrafos anteriores tem-se uma rápida visão das posições defendidas pelos dois debatedores. Mas, afinal, quem fala a verdade? Será que Mantega diz o que diz para defender o governo e dar respaldo à reeleição de Dilma? Será que Armínio visa apenas mostrar os erros do governo e trabalha apenas pela vitória de Aécio?
Se nós basearmos no que entidades especializadas estrangeiras dizem, nas opiniões de comentaristas brasileiros, naquilo que os jornais repetem diariamente, na desaceleração visível da economia, no PIB baixo, na escalada da inflação, enfim no que se verifica no dia-a-dia do país a verdade está do lado de Armínio. Ainda assim, eu não conseguiria colocar Mantega no rol dos que mentem. De fato, impressiona a convicção com que o ministro defende seu ponto de vista. O ministro não mente, o ministro no máximo está enganado. De modo que nesse caso não se trata de um debate no qual está em jogo a dualidade verdade X mentira.
Pena que de posições tão antagônicas dependa o prato de comida de tanta gente.