Praias de nudismo
Lá pelos anos 50 do século passado um naturista aparecia, vez ou outra, no pequeno distrito onde nasci. Era ele sobrinho de uma senhora muito querida por todos. Ela enviuvara pela terceira vez daí viver sozinha razão pela qual seus sobrinhos costumavam visitá-la para fazer-lhe companhia. O fato é que depois da morte do terceiro marido a senhora a quem me refiro recusara novo pedido de casamento. Já enterra três, essa era a sina dela, não enterraria o quarto.
O sobrinho naturista era um sujeito afável. Muito educado, tinha ares da gente que vivia na capital. Vestia-se com esmero, bons sapatos, enfim apresentava - se com a elegância à qual o povo do distrito não estava habituado. Entretanto, sabia-se que por detrás de toda aquela aparência de normalidade existia um sujeito estranho. De fato houve ocasiões em que o sobrinho naturista foi encontrado vagando pela mata completamente nu. Desde então se soube que nas visitas à tia tinha ele por hábito sumir por uns dois dias, internando-se no mato.
Obviamente, um caso assim despertava muita curiosidade nos moradores do distrito. Comentava-se que o rapaz perambulava na mata, consumindo frutinhas silvestres e bebendo água de riachos. Estranhava-se o fato. Crianças tinham medo dele e havia quem jurasse que nas noites de lua cheia o rapaz se transformaria em lobisomem. Como se vê o imaginário popular aguçava-se diante de comportamento considerado estranho. Não será demais uma vez mais lembrar de que estamos a falar sobre a presença de um naturista em lugarejo muito pequeno, isso em meio aos anos 50 do século passado.
Nunca fui a uma praia de nudismo. Confesso que não sei se me sentiria bem ao andar nu em meio a homens e mulheres também nus. Ontem vi na TV um programa escrachado no qual dois repórteres e uma moça visitaram uma praia de nudismo. A naturalidade com que os nudistas encaram o convívio pessoal realmente impressiona. Estando todo mundo nu parece que se descerra o manto que os obriga a certas convenções sociais. Ninguém ali parece envergonhar-se do próprio corpo, esteja ou não em forma. Senhoras de bastante idade circulam nuas com a maior simplicidade. Conhecidos se encontram e param para conversar sem que se note que alguém da roda tenha os olhos acesos sobre o corpo de outra pessoa.
Não imagino o que buscam os nudistas, que tipo de prazer eles sentem ao entregar-se a uma forma de convívio diferente da que normalmente está-se habituado. É certo que o nudismo proporciona outra forma de liberdade e desapego à ditadura da moda e aparência do corpo. Trata-se do contato frontal com a natureza sem conotações morais ou sexuais.
Conheci uma senhora que se casou tardiamente com um engenheiro aposentado. Do que ela não sabia é que o marido era adepto do nudismo, aliás, radicalmente. Esse homem ficava sempre nu quando em sua casa. Certa vez fui levar ao casal uma encomenda enviada por um parente e eis que o engenheiro atendeu-me à porta, completamente nu. Ainda um rapazote naquela época eu não soube como me comportar diante de tão estranho fato. Socorreu-me a mulher do engenheiro que, notando a minha surpresa, veio ao meu encontro e agiu com a naturalidade de pessoa habituada a situações como aquela que certamente se repetiam em sua casa.