Rir faz bem
Vez ou outra assisto pela TV a alguns “stand up” de humoristas norte-americanos. Ali se fala de tudo, com liberdade que pode chegar a constrangedora. Mas, o público se diverte. Aceita-se muito bem o que vem do palco, inclusive tiradas de cunho racista e fortes apelos sexuais. O tom dos humoristas da América nem sempre parece engraçado para nós. Celebridades do cinema, políticos e gente importante são escrachados sem a menor cerimônia para delírio da plateia. Num show a que assisti George W. Bush foi arrasado sem que isso gerasse qualquer tipo de retaliação posterior. Noutro uma humorista, tirou a blusa para exibir ao público as cicatrizes de uma mastectomia a que se submetera para tratar o câncer de mama. Isso sem falar em atitudes às vezes hostis ao próprio público.
No Brasil os “stand up” tornaram-se frequentes. Uma nova geração de humoristas faz sucesso. Alguns deles são ótimos embora poucos mostrem talento invulgar. Entre nós foram precursores do gênero José de Vasconcelos, Chico Anysio e Jô Soares. Na verdade não se pode dizer que os precursores faziam o “stand up” nos moldes atuais. José de Vasconcelos, por exemplo, usava efeitos de luz e música em suas apresentações. Hoje o “stand up” é conhecido como “cara limpa”, ou seja, o humorista não usa piadas prontas e se atém a acontecimentos do cotidiano.
O sucesso dos novos humoristas deu origem a programas de “talk show” como os apresentados por Danilo Gentile e Rafinha Bastos na TV. Trata-se de programas curiosos, marcados pela irreverência que às vezes descamba para alguma escatologia. Mas, são engraçados, divertem.
Nos anos 70 do século passado assisti a uma apresentação de José de Vasconcelos em teatro. Acho que nuca ri tanto na vida. O Zé era demais, infinitamente superior aos papéis mais contidos que tantas vezes fez em programas cômicos na TV.
O brasileiro sempre foi um povo propenso a rir, até mesmo das desgraças. No passado os programas humorísticos transmitidos pelo rádio eram ouvidos em toda parte. Nomes como os de Zé Trindade, Lauro Borges, Castro Barbosa e muitos outros que se apresentavam pela Rádio Mayrink Veiga eram conhecidos em todo o país. Chico Anysio fez sucesso durante anos com seus programas humorísticos apresentados pela TV. Ronald Golias era amado pelo público, sem restrições.
É muito benvinda a atividade dos novos humoristas que mantêm viva a descontração e a capacidade de rir dos brasileiros. Digo isso por temer que, na verdade, o brasileiro já não seja o povo propenso às risadas de antes. Problemas e sufocos experimentamos em todas as épocas, maus governos também. Estamos habituados à desconsideração com a coisa pública. A corrupção que tanta se alardeia não é nenhuma novidade, embora escandalize pelas proporções gigantescas. Mas, o longo período de ditadura, que tanto tolheu a alegria dos brasileiros, deixou marcas. Depois dela vieram períodos que de forma alguma lograram resgatar a confiança no país. De modo que hoje em dia talvez muita gente esteja se esquecendo de como é bom rir, atolada que está nos problemas cotidianos. Como faz bem à alma retribuir com uma boa gargalhada ao desafios a que diariamente somos submetidos.
Precisamos rir. Rir mais. Rir de tudo, de nós mesmos. Deixar a seriedade para os momentos das coisas realmente sérias. Rir a bandeiras despregadas.
O mundo em que reina a alegria é bem melhor.
Ria amigo, não deixe de rir.