Impressão ruim
Tem gente que nos causa aflição, senão temor, em certos casos repulsa. Em geral não externamos os sentimentos diante de estranhos, ainda mais quando topamos om alguém que nossa causa impressão negativa.
Também existem aqueles com quem de cara não topamos, mas que com o passar do tempo se revelam ótimos parceiros. E os que com seu jeitinho angelical acabam se revelando gente de amargar.
Pois tenho um vizinho de quem não gosto porque o cara é de fato muito fechado. Ranzinza. Daqueles que não respondem ao bom dia no elevador. Dos que batem a porta do mezanino na cara da gente, obrigando-nos a tirar a chave do bolso para abri-la. Dos que entram no elevador e nem se dão conta de que você está junto dele para seguir junto. Enfim, um cara com jeito de poucos amigos a quem o melhor parece ser ignorar. Tanto que nas vezes em que cruzo com ele no prédio arranjo um jeitinho de me esquivar. Detalhe: somos vizinhos há alguns anos e nunca nos dissemos mais que meia palavra.
Entretanto, aconteceu-me estar no centro da cidade e envolver-me numa colisão de trânsito. Embora o motorista do carro que me abalroou claramente fosse culpado tentou safar-se acusando-me de má direção. E fazia isso a altos brados. Ora, eu trafegava na rua e ele estava de saída de um estacionamento. Saiu de repente, bateu na lateral do meu carro. Estaria ele certo?
Ocorre que o tal motorista era um rapaz com braços vigorosos, formados em academia. No esplendor de seus vinte e poucos anos constituía-se numa ameaça tal seu descontrole no momento em que saiu do carro. E logo veio na minha direção, dedo em riste, talvez pronto para me dar uns sopapos.
Não sei se você já passou por uma situação dessas na qual a sua desvantagem física é gritante. Obviamente reagi, dizendo que o erro fora dele etc. Ocorreu-me perguntar a ele se não teria seguro de carro tão novo pois o seguro resolveria tudo. Tudo em vão. A situação piorava, na verdade deteriorava a ponto de tornar-se agressão física.
Fui salvo por um anjo que surgiu do nada, defendendo-me. O anjo disse ao rapaz que presenciara a colisão e atestava culpa dele. Mais: o anjo era um cara grande, com cara de poucos amigos, fato que levou o tal fortinho a pensar duas vezes e recuar.
Sabe quem era o anjo? Então, o tal do meu vizinho.
No dia seguinte encontrei-me com ele no prédio e tentei ser educado, agradecendo-o pelo socorro. Ele não moveu nenhum músculo e mal pronunciou um “tudo bem”.
Bom sujeito, mas é assim, do jeito dele.