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Perdas

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Estudante do ginásio eu matava aulas para assistir às sessões da tarde no cinema da cidade. O problema era o porteiro do cinema sempre atento aos rapazinhos de uniforme para quem a entrada era proibida. O jeito era levar na bolsa uma jaqueta que substituía o paletozinho cáqui da escola pública. Então o porteiro fazia vista grosa porque naquelas sessões vazias um pagante a mais fazia diferença.

Foi numa dessas tardes, no escuro do cinema, que vi na tela uma imagem que me assustaria durante bom tempo. Tratava-se de um vampiro com ares de poucos amigos. Era um sujeito alto que pouco falava e agia nas sombras cravando seus caninos no pescoço de suas vítimas. Altivo, terrível, o mal em pessoa. A partir daí Dracula passou a fazer parte da minha imaginação.

Christopher Lee, o intérprete de Drácula, morreu ontem.  Embora outros atores tenham interpretado o vampiro no cinema, para mim nenhum deles atingiu a perfeição conseguida por Lee. Ele era Dracula e ponto final. Grande perda para o cinema e nossa imaginação ficcional o desaparecimento de Christopher Lee.

Outra grande perda aconteceu no universo musical com o desaparecimento do saxofonista Ornette Coleman. Confesso ter demorado um pouco para me aproximar da música de Coleman. O “free jazz” e a distância que o separa dos “standards” aos quais meus ouvidos são habituados não é um tipo de som facilmente assimilável. A liberdade de criação de músicos tocando juntos, mas entregando-se a variações personalizadas e sem prévia combinação muitas vezes pode soar grotesca aos ouvintes desavisados. Para Coleman qualquer canção conhecida poderia servir como ponto de partida para criação de nova estrutura de acordes. Entretanto, que não se pense que se trata de composições ao acaso, sem regras.

O mundo amanheceu sem brilho hoje com as ausências de Christopher Lee e Ornette Coleman.

Escrito por Ayrton Marcondes

12 junho, 2015 às 11:42 am

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