Constrangimentos
Ouvi relatos de pessoas sobre situações que as constrangeram. Uma delas contou ter-se fartado sexualmente e, ao abrir a porta do quarto, calça ainda arrida, deu de cara com o cunhado. Outra se lembrou da tentativa de fugir da escola. Pulava o muro quando topou com dois seguranças que o devolveram à direção.
Um amigo, já falecido, certa vez me disse que anos depois ainda tinha vergonha por ter rompido noivado na semana em que marcara o casamento. Namorara a moça desde menino, famílias amigas, horário de igreja marcado, convites enviados e ele decidiu que não era bem o que pretendia.
Cada pessoa terá o que dizer sobre situações que a constrangeram. Quanto a mim confesso ser proprietário de uns pares de ocorrências desse tipo, a maioria delas dos meus tempos de menino e rapaz. Inesquecível aquela acontecida dentro de um bonde na linha férrea que leva a Campos do Jordão. Não sei bem porque fazia eu parte de uma roda na qual cada um contava o seu “causo”. Na minha vez temperei a conversa com as façanhas de meu irmão, uma delas relacionada a uma visita dele ao cemitério da cidade à meia-noite para provar não ter medo de fantasmas. Dorei a pílula a meu modo e exagerei o quanto pude. Quando terminei, um homem levantou-se e veio até nós. Era o padre da paróquia à qual o cemitério estava apenso. Ouvi poucas e boas do homem de batina que queria saber o nome do meu irmão para tomar providências. Nos meus 14 anos outro recurso não tive que senão enfiar o rabo no vão das pernas e assumir a cara de besta que a ocasião exigia.
Há em meu passado outros tantos constrangimentos. Aprendi que a lição de minha mãe sobre em boca fechada não entrarem mosquitos é de imenso valor. De modo que fui deixando para trás a peculiaridade de ser uma “boca aberta”. Silêncio ajuda e muito tenho isso como norma de vida.