LPs nos toca-discos
O escritor Julio Cortázar escreveu que para ouvir Gardel é preciso rodar um disco gasto num velho gira-discos, pois só assim se reproduz o clima dos tempos da gravação. Cortázar é sempre relacionado com o jazz, gênero de sua preferência, embora tenha sido fã de tango a música de sua terra natal. Aliás, de Cortázar existe um poderoso ensaio no qual fala sobre apresentação de Thelonius Monk a quem viu tocar certa noite em teatro parisiense.
Não sei dizer a que velocidade acontece, mas o certo é que os antigos LPs estão de volta. Muita gente despreza os CDs, garantindo que o som dos LPs reproduzidos em bons toca-discos é superior. Os discos de vinil antes relegados a brechós e sebos ressurgem. Aficionados garantem que as gravações analógicas de longe superam as digitais, sendo mais fiéis ao som original.
O primeiro CD surgiu em 1982, portanto há pouco mais de trinta anos. No Brasil o primeiro CD foi lançado em 1986. Pouco depois da época de lançamento falava-se na revolução digital que se iniciava. Para o lixo com os discos de vinil com os quais era preciso o maior cuidado dado que a gordura das mãos os impregnava durante o manuseio e agulhas rombudas afetavam suas trilhas. Isso sem falar em arranhões que, durante a reprodução, acrescentavam sonoridades destoantes na música tocada. Os CDs eram e são bem mais práticos dado que não existe o contato entre a cabeça do aparelho que os reproduz com o disco em reprodução.
Foi assim que, gradualmente, deixei de lado a minha bela coleção de LPs da qual ainda conservo exemplares que não tive coragem de me desfazer. A partir daí passei a comprar exclusivamente CDs e posso dizer que tenho muitos deles.
Entretanto, até hoje não sou capaz de dizer se, de fato, os discos de vinil superam em qualidade os digitais. Creio que só ouvidos especializados conseguem discernir as discretas diferenças entre eles, caso de fato existam. Além do que hoje em dia os equipamentos para reprodução de discos de vinil custam caro, enquanto que CDs players existem até mesmo em consoles de carros.
Por falar nisso, atualmente quase não faço uso dos meus CDs: de tempos para cá me tornei sócio de um serviço de streaming musical que, ao ser acessado pela internet, oferece incrível variedade de opções à escolha do ouvinte. Todos os gêneros musicais estão ali contemplados de modo que ao ouvinte se oferece variedade em acordo com seu gosto musical.
O serviço de streaming acaba sendo barato e não exige a posse de equipamentos muito caros. Um computador - ou notebook, ou tablete, ou smartphone – ligado a caixas de som amplificadas é o bastante para que se possam ouvir horas de música.
No começo ingenuamente pensei que os artistas estariam acabados com a nova moda do streaming. Seria o final dos CDs? Não sei. Mas quanto aos artistas soube que os direitos deles são preservados. A cada clique para reprodução de uma música artistas recebem um valor determinado pela reprodução. Outro dia li que uma cantora pop norte-americana recebeu cerca de 6 milhões de dólares na forma de direitos pela reprodução de suas músicas ao longo de um ano. Bom, né?