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Estocando vento

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A presidenta da República comparou reservas hídricas à estocagem de vento. Não foi com essas palavras, mas desenvolveu raciocínio nesse sentido. Obviamente, seus críticos desceram o pau. Ouvi pelo rádio jornalista perguntando-se sobre a sanidade da presidenta. E por aí vai.

Todo mundo sabe que a presidenta perde poder a cada instante. A mulher está sitiada. Cercam-na um bando de interesseiros, dispostos a barganhas nas quais o perde-ganha sempre se dá a favor deles. Assim o governo se decompõe, perde lastro. Torna-se impossível acreditar numa reviravolta quando até mesmo os partidários da presidente passam a criticá-la. Cada vez menos o governo conta com parceiros fiéis e interessados no bem maior do país.

Lembrei-me de Jânio Quadros. Dirão que não existem parâmetros para comparação entre a renúncia de Jânio e a situação da atual presidenta. Pode ser. Entretanto, certa vez li texto de jornalista, dizendo que o acabou com Jânio foi o isolamento. Fosse ele presidente no Catete não teria renunciado. Jânio era homem do povo, precisava de gente ao redor dele. Assumiu numa capital nova e distante de tudo. Dizem que afogava suas mágoas bebendo. Verdade ou não, certo dia surpreendeu o país, renunciando. Ainda me lembro da estupefação gravada na face das pessoas que transitavam nas ruas. O gesto parecia tresloucado, senão impossível. O homem sobre quem se depositara imensa confiança saia de cena, sem mais, nem menos.

A cena que nunca me saiu da cabeça quando da renúncia de Jânio foi a de um parente chorando. A cabeça do moço no colo de minha tia que tentava consolá-lo dava a dimensão exata do louco gesto do presidente. Chorava-se por toda parte. Chorava-se pelo Brasil.

Hoje tem-se uma presidenta isolada, embora cercada por muita gente. Não é estranho que tenha se confundido com as palavras ao desenvolver seu raciocínio sobre a energia eólica. A pressão sobre a presidente é grande demais.

Não se está aqui a defender o governo que, aliás, perdeu-se, errou demais. Mas dá para se imaginar o sufoco da presidenta tanto que não seria surpresa se viesse a renunciar.

Escrito por Ayrton Marcondes

9 outubro, 2015 às 11:50 am

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