Barco fantasma
A cena do filme “Titanic” na qual a câmara mostra partes do convés do navio deterioradas pela ação das águas marinhas é inesquecível. A sensação da brevidade das coisas e da própria vida é transmitida ao espectador sem mediações. Por aqueles lugares passarm o luxo, a riqueza e a galanteria de pessoas que, em sua maioria, morreram instantes depois nas águas geladas. A perversidade da derrota frente ao inesperado assemelha-se a um ajuste de contas de forças desconhecidas contra a ousadia do homem que ousara construir um transatlântico “inafundável”.
De que os navios e barcos têm vida própria e pensam já nos garantia o poeta francês Arthur Rimbaud em seu poema “O barco ébrio”. Rimbaud nos fala de um barco desgovernado no qual já não se ouve a gritaria dos embarcados. Assim, vagando, liberto de seus rebocadores, seguia em seu glorioso desgoverno, ao sabor das ondas dos rios, errando em direção ao mar.
O barco de Rimbaud não terá sido único na história das naus desgovernadas que percorrem estranhas rotas marinhas com incertos destinos. Nestes mesmos dias têm chegado às costas do Japão barcos fantasmas nos quais não viajam vivalmas. Em alguns são encontrados restos humanos em avançado estado de decomposição; em outros nenhum sinal de marinheiros e pescadores.
De onde vêm os barcos fantasmas que chegam ao Japão? Não se sabe com certeza. Supõe-se que oriundos da Coréia do Norte, embora não existam sinais de suas origens. O mistério encanta.
Barcos ébrios navegando solitários na imensidão dos mares. Naufrágios. O governo da Colômbia anuncia ter encontrado o mítico galeão San José, afundado nas águas próximas a Cartagena quando carregava um tesouro de ouro, prata e esmeraldas para a Espanha. Desaparecido desde o século 18, quando foi afundado pelos ingleses, o San José Abriga o maior tesouro marinho de que se tem notícia, cujo valor é hoje estimado entre 5 e 11 bilhões de dólares.
Enquanto isso as calmas águas que banham nossas praias revoltam-se imperceptivelmente. O mar quer tomar a terra, aproveitando-se da elevação da temperatura ambiente. Mas, os homens reunidos em Paris não chegam a acordo sobre a emissão de gases estufa.
Como será o mundo daqui a um século?