A sala de espera
Na sala apinhada espero pelo chamado da minha senha. Reparo no quadro luminoso que, a curtos espaços de tempo, faz um som estranho anunciando novos chamados. Olho para o painelzinho luminoso, observo o número e comparo com o que tenho nas mãos: não batem. Não é a minha vez. Ainda não é.
Depois de muito tempo começo a me perguntar se serei chamado. Será que não me enganei de sala? Não pertenceria o meu número a outra série, de outro lugar, talvez de planeta diferente? Consola-me a presença de uma mulher que aguarda ao meu lado. Ela já estava aqui antes de mim e permanece calma. Aceita o destino de ter uma senha que talvez nunca venha a ser chamada sem reclamar. Tenho vontade de perguntar a ela sobre demora, mas me retraio. E se ela for uma dessas pessoas que esperam por uma chance, por uma única e rara oportunidade de iniciar um monólogo interminável sobre as desgraças da vida dela, talvez o marido desaparecido, o filho assasinado, a grana curtíssima etc? Mas, não, talvez ela nem exista de verdade, talvez não passe de criação imaginária engendrada pelo meu desespero de a próxima chamada ser a do meu número para que eu possa, finalmente, me sentar diante daquela mocinha sorridente que analisa os papéis e indica às pessoas o rumo que devem tomar.
Mas, a mulher a meu lado é real. Não se move, não diz nada, mas é real. Poderia tocá-la para confirmar. Esbarrar nela, talvez isso bastasse para devolver-me ao mundo concreto da inteterminável espera que parece não ter solução.
Estou aqui a muito tempo é só agora reparei que ninguém foi chamado. Entro em desespero quando verifico que, na verdade, o número exibido no painel nunca muda. A cada toque o número se repete. A mocinha sorridente mira o vazio e ninguém se senta diante dela para mostrar os papéis. Ninguém é chamado. Só então me ocorre que esta não é uma sala de espera normal. Quem está aqui não será atendido, provavelmente não. Não tenho certeza, mas parece que estamos todos mortos. Talves esta seja a sala na qual os mortos esperam indefinidamente pelos seus julgamentos.
Aqui não existe pressa. A eternidade é longa demais, tem-se todo o tempo do mundo.