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A esperança dos brasileiros

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Nos dias atuais quando o país padece da desconfiança nos homens públicos e nuvens carregadas turvam a visão do futuro vale lembrar de fatos passados que nos ajudem a traçar o perfil da gente brasílica.

O dia 25 de agosto de 1961 terá sido um dos mais impactantes na história do país. Na tarde de 25 o então presidente da República, Jânio Quadros, surpreendeu o país, enviando ao Congresso Nacional a carta de demissão do alto cargo apara o qual fora eleito. Empossado em janeiro, Jânio não chegou a completar o primeiro ano de seu mandato. Líder inconteste, bom administrador, homem feio e desengonçado, brilhante, verdadeiro artista da palavra, proprietário de estilo único de governar, capaz, Jânio levara ao planalto a esperança de milhões de brasileiros. O país atolado na crescente inflação, endividado, mal saído da construção de Brasília precisava de acertos urgentes. Jânio era o homem. Tivera carreira meteórica ao longo de quinze anos que culminaria na presidência. Prefeito de São Paulo, governador do mesmo Estado, era o homem da vassourinha, aquele que varria a corrupção, visitava inesperadamente órgãos públicos e comandava subordinados por meio dos famosos bilhetinhos. Incrível um tipo como Jânio arrastar atrás de si multidões de correligionários e eleitores. Pobre, fizera campanhas do tipo “tostão contra milhão” e chegara lá. Vencera todas. Era o presidente. E a esperança.

O dia seguinte à renúncia segue inesquecível. Descera sobre o país a incerteza e o clima era de velório. Naquele dia eu, rapazote, estava em casa de um tio que morava na Alameda Nothman, são Paulo. No térreo do prédio havia um bar, na calçada o jornaleiro. Os jornais presos ao arame as manchetes inacreditáveis, todas dizendo: “Jânio renunciou”. Em torno das manchetes pessoas paradas, atônitas.

Dentro do bar silêncio. Nas ruas silêncio, pessoas apressadas como se fugissem de uma notícia muito ruim, desafiadora. Eram os brasileiros presos na instantaneidade da perda de confiança gerada por ato de todo modo inexplicável. De Jânio haviam recebido apenas a explicação de que “forças terríveis” haviam se levantado contra ele, daí não ter mais condições de honrar o compromisso assumido com os brasileiros.

Voltei ao apartamento de meu tio e encontrei um primo aos soluços, sendo consolado pela mãe. O Brasil chorava. Nãos sabíamos, mas a trajetória espinhosa do país mal começava. Viriam o turbulento período de Jango no governo e o golpe militar de 1964. A democracia viria a ser restituía apenas em 1985 com a eleição indireta de Tancredo Neves que não chegou a governar.

Olhando para trás tem-se a impressão de que, afinal, vencemos. Melhor: superamos. Fomos jogados ao sabor das pressões e acasos, mas superamos. Entretanto, agora somos novamente assombrados pelos malditos fantasmas que, assim parece, jamais serão expulsos do país. Desta vez, teremos forças para mais uma vez vencê-los? Vencerá a hoje combalida esperança?

Escrito por Ayrton Marcondes

6 maio, 2016 às 4:03 pm

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