Ronaldo, intérprete do Brasil
Sempre que falávamos sobre algo considerado impossível de acontecer um de nossos amigos, corintiano roxo, dizia: só acontecerá quando o Corinthians for campeão invicto sem nenhum gol contra.
Campeão invicto o time foi, não sei se com algum gol contra ou não. Mas o jogo contra o Santos foi emocionante até para quem não torce para nenhum dos dois times.
As ocorrências depois do jogo extrapolaram o previsto: invasão de campo e fogo em torno da taça conquistada quase atingindo os jogadores corintianos. Depois disso, as entrevistas. Numa delas, um comentarista de televisão elogiou o presidente do Corinthians afirmando que não daria a vida por ele, mas o sangue sim. Noutra ouviu-se Ronaldo que começou desabafando contra a desorganização após o jogo. Mas o surpreendente foi que afirmou quando perguntado sobre o momento atual em sua carreira. Ronaldo definiu-se:
- Eu sou o brasileiro.
Sim, o cara que já passou por tudo na vida, da fome à glória e muito dinheiro, com altos e baixos, sempre lutando, caindo e se levantando, encarando as dificuldades, cometendo deslizes, enfim, o brasileiro.
E foi assim, com simplicidade, que o astro do futebol juntou-se a outras personalidades que tentaram interpretar o Brasil e os brasileiros. O “ser brasileiro” de Ronaldo é diferente do apresentado por homens como Paulo Prado com sua visão pessimista ou Sergio Buarque de Holanda com o homem cordial. O “ser brasileiro” de Ronaldo é condição que justifica um pouco de tudo que nos acontece numa visão quase determinista de que “se somos assim, nas circunstâncias em que vivemos, não poderíamos ser diferentes”.