Muhammad Ali
O mundo acaba de perder Muhammad Ali Ali ou Cassius Clay. Posso me considerar um cara sortudo: vi Pelé jogar - no Pacaembu – e Ali - pela televisão, ao vivo, nos momentos em que lutava.
Gente como Pelé e Ali tornaram-se personagens emblemáticos. Representantes de uma época caracterizaram, no esporte, um modo de ser que encantou milhares de fás em todo o mundo. Ali dizia-se o maior: foi de fato muito grande, impressionantemente grande. Destacou-se não só como notável pugilista: igualou-se a Martin Luther King e Malcolm X na luta contra o racismo branco. A carreira de Ali floresceu nos anos 60 quando aos negros dos EUA eram negados direitos básicos. A recusa de Ali em lutar no Vietnam e a suspensão de seu título de campeão mundial, em 1967, acrescentaram à sua biografia o caráter de alguém além de um grande ícone esportivo.
Falante, desafiador, Ali encantou-nos dentro dos ringues. Inesquecível sua vitória contra Sony Liston, conquistando o título mundial dos pesos pesados. As imagens do Ali saltitante, enlouquecido, gritando para Liston levantar-se e continuar a luta, o mortal ataque que se seguiu, obrigando o juiz a encerrar a luta, geraram a mítica do Ali invencível, “o maior de todos”. E que dizer de suas duas lutas contra Joe Frazier, a primeira delas depois de sua volta aos ringues, em 1971, na qual foi derrotado, deixando-nos boquiabertos diante da TV naquela que foi considerada a “luta do século”? Mas, na segunda luta ali venceria o grande adversário, vingando-se de uma de suas raras derrotas.
De Muhammad Ali Ali guardo memória de sua incrível luta contra George Foreman, então campeão mundial, realizada no Zaire em 1974. Ali já não era o jovem que derrotara Liston, em 1965. Foreman era um monstro de força, imbatível, que arrasara todos os seus adversários. Embora Ali fosse o grande Ali, não se acreditava que pudesse superar Foreman. Lembro-me de estar diante de minha TV de 14 polegadas, assistindo a Ali sentado nas cordas, submetendo-se ao duro castigo infligido por Foreman. Lembro-me, também, de ter dito a quem estava ao meu lado: Ali nunca deveria ter feito essa luta.
Na luta com Foreman o sofrimento durou até o 8º round. Então ressurgiu, nas cordas, o grande Ali, numa sequência formidável de golpes que derrubaram Foreman. Era o nocaute. Mais de onze da noite, corri à janela de meu apartamento e olhei os prédios ao redor. As pessoas saíram às janelas, surpresas. Um homem havia ultrapassado a barreira do impossível. Éramos humanos, capazes de tudo, vencedores. Ali nos deu esse sonho naquela noite.
Ali morre aos 74 anos, após ter passado anos sofrendo com o mal de Parkinson. Deixa saudades não só do notável pugilista, mas de uma época de nossas vidas da qual ele fez parte marcante.
Boa viagem Muhammad Ali Ali.