Durante o breaking
Converso com um homem no intervalo de encontro de negócios. Ele tem pouco mais de 50 anos, boa aparência, veste-se bem e fala com fluência. Pergunta-me sobre as minhas atividades e apresenta-se como consultor de negócios, atuando na área da Educação e serviços ligados a ela.
Impressionam-me o seu conhecimento, a atualidade de suas observações e visão de mercado. Discreto mas firme, parece-me pessoa adaptada a esses novos tempos globalizados e de crise, antenado com o que acontece no setor em que atua de modo a influir positivamente nas decisões das pessoas e grupos que assessora ou participa.
A conversa dura o tempo exato do breaking. Despedimo-nos trocando cartões e ele me promete uma visita para tratarmos assuntos de interesse comum.
Horas depois, em conversa com amigos, fico sabendo que o homem com quem troquei idéias está desempregado já há dois anos e não encontra lugar no mercado de trabalho. Entretanto, ele não perde a esperança de ser reaproveitado. Para isso, mantém as aparências: freqüenta eventos e busca causar sempre boa impressão. Esse é o seu modo de se manter vivo e expectante sobre novas oportunidades
A idade certamente pesa na hora de conseguir uma nova colocação. No caso do homem sobre quem falo penso que, além da idade, pese sobre ele o fato das pessoas do ramo saberem da sua real condição. Fios de cabelos brancos associados ao desemprego talvez contribuam para a imagem de fracasso e confiram a uma pessoa o estigma de perdedor. Nesse caso, as oportunidades de retorno ao trabalho dependerão do delicado equilíbrio entre a boa imagem que se quer transmitir e agravantes como o preconceito contra a velhice.