Aos olhos do mundo
É no que dá o gigantismo das realizações. Para ficar nas duas últimas veja-se a grandeza da Copa do Mundo e o início das Olimpíadas em breve. Macro eventos que exigem dinheiro, inteligência e muito preparo.
Assim, o Brasil fica exposto aos olhos do mundo. Olhos sarcásticos, aliás. No meio da fogueira é possível se identificar o clima do “só podia dar nisso”. E os jogos nem começaram. Entretanto, as tais obras inacabadas da cidade olímpica deram o que falar. A delegação australiana encontrou nas instalações vazamentos, problemas elétricos etc. A chefe da delegação não perdoou: meteu a boca. Pronto. Repercussão mundial. Como se afirmou no Jornal Nacional: pegou mal lá fora. Também de mau gosto a piada do prefeito do Rio que sugeriu colocar cangurus na entrada das instalações olímpicas para agradar aos australianos. O prefeito do Rio é desses caras dotados de simpatia exagerada, isso para não dizer forçada.
Em programa de TV jornalista questionaram o ministro da Defesa sobre a segurança no Rio durante os jogos. Foram presos 12 brasileiros que teriam se organizado para um atentado terrorista. Sobre isso há opiniões divergentes. Autoridades os declararam amadores. Mas foram presos como não poderia deixar de ser. Afinal, a recente escalada do terrorismo na Europa e a presença de delegações estrangeiras tornam o Rio palco no qual tudo pode vir a acontecer.
Durante a entrevista o ministro garantiu que todas as medidas possíveis e necessárias foram e estão sendo tomadas na área de segurança. E não só em relação à possibilidade de terrorismo dada a necessidade de controlar a grande criminalidade observada rotineiramente na cidade. De modo que a polícia estará atenta aos morros, favelas etc. Disso entendeu uma jornalista que, talvez, tais medidas afastassem dos jogos pessoas menos favorecidas. Seriam, portanto, discriminadas. Obviamente, o ministro negou que isso fosse acontecer, embora ressaltando a natural exclusão devida a fatores econômicos.
A possibilidade de exclusão dos mais pobres fez lembrar fato acontecido no Congresso Pan-americano de 1908, realizado no Rio. A cidade fora remodelada por obra do engenheiro Pereira Passos. Grandes avenidas e prédios foram construídos naquilo que ficou conhecido como bota-abaixo. O Rio civilizava-se, no dizer de um cronista da época. Imitava-se Paris. O Congresso era a oportunidade de mostrar a nova face do país e dos brasileiros ao mundo. Entretanto, e inesperadamente, a comitiva formada por estrangeiros e brasileiros que brindavam na Avenida Central foi surpreendida pela passagem de uma carroça com os índios que a todo custo quisera-se esconder. Era, segundo o cronista da época, a nossa vergonha exposta ao estrangeiro.
Inegavelmente o país quer mostrar-se capaz ao mundo que nos olha com desconfiança. Resta-nos torcer para que as Olimpíadas transcorram dentro da normalidade e sem imprevistos. Também não custa lembrar de que o Brasil é maior que tudo isso, daí que se danem os que não perdem oportunidades de criticar o país.