Robert Mapplethorpe at Blog Ayrton Marcondes

Robert Mapplethorpe

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O que não se pode negar a Robert Mapplethorpe (1946-89) é o fato de ser um grande fotógrafo. Seu olhar lúcido e inquisitivo paira sobre os humanos e objetos inanimados que mereceram a sua atenção. Armado de uma polaróide Mapplethorpe ousou visitar territórios, desnudando espaços nunca antes tão profundamente considerados por outros artistas. Centrado na necessidade de criação que inevitavelmente conduz à fama o grande fotógrafo projetou obra com o intuito de ser sempre lembrado. Para ele era de suma importância não só realizar-se como ser reconhecido. Ao fim da vida engendrou a sua Foundation que perpetuaria o seu nome.

A obra de Robert Mapplethorpe consiste na elaboração de estranhamentos capazes de prender a atenção do observador.  É de um mundo conhecido, mas cujo detalhes prefere-se ignorar, que o fotógrafo extrai as essências de suas criações. Mapplethorpe entrega-se a uma devassa do mundo do sexo, nada poupando, demolindo o que encontra pela frente. Suas incursões no universo das relações sexuais, mesmo as mais bizarras, não encontra paralelo nas obras de artistas de qualquer época. Nem sempre suas fotos primam pela beleza, tantas vezes ligadas à mais desenfreada escatologia. O braço enfiado no ânus e o dedo mínimo introduzido na uretra do pênis provocam mal-estar e indignação em seus detratores. Mas o fotógrafo parece flutuar noutra esfera, aquela em que colhe suas imagens e as divulga, doa a quem doer.

O documentário sobre a vida de Mapplethorpe (Mapplethorpe: Look at the Pictures, realizado pela HBO) é revelador. Ilustra a trajetória do grande fotógrafo e liberta-nos da dúvida sobre quem, afinal, terá sido esse sujeito cuja arte rompeu fronteiras a ponto de até mesmo suscitar a questão: afinal da obra de Mapplethorpe pode-se dizer que se trata de arte?

O gigante da fotografia morreu jovem aos 41 anos. Pagou caro tributo à devassidão de seus desenfreados encontros homossexuais que lhe renderam o diagnóstico de AIDS. A imagem de seus últimos dias, sentado em meio à multidão que silenciosamente compareçou à galeria pera a derradeira exposição do artista, mostra um homem vencido. Consumido pela doença. Esgotara-se sua força. Mas, se o corpo já não era o mesmo os olhos do fotógrafo permaneciam vivos. Neles as últimas chamas de um olhar que ousou ver o que ninguém antes vira, apagava-se devagar.

Ainda hoje a obra de Mapplethorpe incomoda.

Escrito por Ayrton Marcondes

18 novembro, 2016 às 12:03 pm

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