O último grito
Tragédias marcam, impressionam. Sabemos que podem acontecer, mas preferimos pensar que não. Então, quando acontecem, instala-se o desespero diante do incompreensível. A morte nunca é benvinda, nem mesmo quando ela nos parece a melhor solução como em casos de pacientes terminais. Afinal, é ela, a caveira com a foice que se ocupa em ceifar vidas. Com a morte não existe acordo possível.
De um momento para outro divulga-se que a equipe da Chapecoense simplesmente desapareceu. Jogadores, comissão técnica, médicos, jornalistas que participavam de um voo a Medelín morreram num acidente aéreo. A alegria pela próxima disputa de um título sul-americano subitamente é substituída pelo desconsolo provocado pelo imponderável.
O Brasil se comove. A cidade de Chapecó paralisa-se. O mundo recebe a notícia com estupefação. O esporte mundial declara-se em luto. Nada, absolutamente nada, pode ser feito para remediar acontecimento imprevisível, absurdo. Por toda parte dor, muita dor.
Nos meios de comunicação especialistas buscam razões para o acidente aéreo. Ouvimos hipóteses enquanto assistimos cenas pungentes do resgate de corpos. A imagem do avião espatifado numa região montanhosa faz-nos pensar nos últimos momentos dos passageiros ao se perceberem perdidos. Como será estar diante da morte, em situação que se reconheça como irreversível?
Mas, em meio a tamanha desgraça eis que a morte houve por bem poupar umas poucas testemunhas. Uma delas, um comissário de bordo, milagrosamente salvo, relatou ter ficado em posição fetal, daí ter saído praticamente ileso. Entretanto, disse que no momento da queda os passageiros entraram em desespero, ficaram em pé, gritando e assim morreram.
Sempre penso nos segundos que antecedem o momento final de uma tragédia, o instante no qual nada mais pode ser feito e fica-se à mercê de uma situação sobre a qual perdeu-se o controle. Imagino que no grande desespero do momento não exista tempo para qualquer tipo de reflexão. Trata-se do encontro com a morte não anunciada e de repente presente. Resta ao homem o grito. O último grito.