O Prático
Face redonda e o nariz fazendo lembrar o de um dos três porquinhos valeram a ele o apelido: Prático. Chamavam-no assim nos tempos da escola e ele não ligava, atendia a todos e tinha sempre um sorriso nos lábios.
Sujeito ótimo o Prático. Formado em medicina e especialista em neurologia revelava seu lado humano reservando, toda semana, tempo para atender aos que não podiam pagá-lo. A carreira bem sucedida com direito a reconhecimento no exterior nunca o fez desviar-se um só centímetro de seu modo simples de ser.
Não via o Prático há bom tempo quando, por acaso, encontrei-me com ele num sábado e paramos para tomar um café. Falou-me sobre os filhos que moram no exterior e a mulher vitimada pelo câncer. Mas não se queixou: entendia a vida como ela é, sem fantasias, talvez com algum fatalismo.
Soube da morte do Prático, ocorrida ontem, através do obituário de um jornal. Lá estava o nome dele, naquela lista que ninguém faz questão de estar, secamente e sem alusão ao excelente homem e profissional que ele foi.
Mais tarde liguei para um amigo que me falou sobre o “causa mortis”: derrame cerebral.
Não fui ao enterro. O Prático era um cara alegre e não gostava de cerimônias fúnebres.