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Ainda o assédio

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Só mesmo Donald Trump ao atacar a Síria com mísseis consegue desviar a atenção do que se fala nas redes sociais: o assédio do ator  da Globo sobre a figurinista da mesma emissora em que ele trabalha.

Com protestos crescentes - atrizes e funcionárias da Globo vestiram a camiseta “mexeu com uma, mexeu com todas” - o ator veio a público para pedir desculpas. E o fez divulgando uma carta que começa por um “Errei”. Mas, por que errou o assediador? Ele explica: por pertencer a uma geração habituada a brincadeiras que hoje não se aplicam mais. Enfim: o mundo mudou, é preciso integrar-se à nova realidade. Daí a promessa do ator em renovar-se. A partir de agora ele será um novo homem, aliás um homem melhor. Sem as tais brincadeiras.

Não sei a idade do ator nem a que geração ele pertence. Entretanto, folgo em saber que certos delizes que cometemos podem ser atribuídos à geração à qual pertencemos. A coisa funciona assim: certas atititudes acabam se tornando padronizadas, daí serem tidas como normais dentro de uma época. Até a pouco era, por exemplo, normal um homem brincar com uma mulher tendo como tema da brincadeira algo relacionado à possibilidade de vir a fazer sexo com ela. Isso fazia parte de um modo de ser dos homens educados dentro de uma sociedade machista que era a eles muito favorável. O problema  é que o mundo mudou e o que era comum, deixou de ser. Resta, portanto, aos garanhões de plantão, tomar consciência desse fato  e prometer mudar seu comportamento, adaptando-se à nova ordem.

Quem somos nós para desdizer o famoso ator que se apresenta convicto do que diz? Teria ele agido no bom sentido, infelizmente utilizando uma brincadeira que assim não foi entendida pela figurinista? Ela o acusa de ter tocado na sua genitália e proferido palavras ofensivas à sua condição de mulher. Isso diante de testemunhas. Desse ato nasceu o embate de opiniões que circulam sobre o assunto. No geral condena-se o ator embora encontre-se quem o defenda.

Diante disso resta-nos vasculhar o passado e perguntar se em algum momento transgredimos a linha do respeito às mulheres com quem convivemos. Será que por pertencermos a uma geração na qual certas brincadeiras eram tidas como normais não teríamos ferido fundo o orgulho de mulheres pelas quais momentaneamente nos interessamos?

Difícil aceitar a versão do ator.

Escrito por Ayrton Marcondes

9 abril, 2017 às 8:21 pm

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