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Aos 80 anos, a maioria deles dedicados à doutrinação e ajuda aos semelhantes, o velho cristão inquieta-se com a proximidade da morte. Em vão busca nos evangelhos respostas para sua crise existencial. Afinal, o que o espera após cerrar os olhos? O esperado encontro com Deus de fato acontecerá?

Não é o caso de suspeitar-se de que a fé do cristão vacile. De modo algum. Mantem-se aferrado aos dogmas e à doutrina que o fez ser o homem que é. Conhece a fundo a alma dos fiéis com os quais labutou vida afora. Ensinou e propagou a fé cristã tantas vezes até mesmo em situações adversas. Socorreu a muitos e esteve ao lado de moribundos até o momento final. Mas, que pensar agora que a sua vez que se aproxima? Como será o momento em que tudo o que ele acredita será colocado à prova?

Conheço o velho cristão há muito tempo. Homem bom e sério não creio que vacile em sua fé. De tempos para cá a saúde tem-lhe pregado peças. O médico advertiu-o sobre os problemas do coração que já não suporta a carga de sustentar o organismo. Percebe-se no cristão, às vezes, alguma dificuldade respiratória. Ainda assim, permanece lúcido e confiante. Mas, pressente que a morte o espreita e isso o incomoda.

Converso com o velho cristão. Trocamos ideias e falamos sobre a vida. Ele destaca o avanço da idade e a saúde precária. A certa altura deixa escapar a preocupação com o destino de sua alma após a morte. Merecerá ele o céu? Terão seus pecados mais peso que suas virtudes? Como será o julgamento final de seus atos?

Pergunto ao cristão se em seus questionamentos não se inclui o da possibilidade de a morte ser o fim, nada existindo depois. Ele me olha com aspecto de desolação. A hipótese remota de a morte encerrar tudo é inaceitável.

É um fim de tarde na grande casa, antigo colégio, onde o velho cristão convive com outros idosos para viver seus últimos anos. Ao fim de minha visita abraçamo-nos. Tenho vontade de dizer a ele sobre a inutilidade das perguntas que o atormentam. Mas, me calo. De nada valeria afirmar que não existem respostas.

Escrito por Ayrton Marcondes

28 abril, 2017 às 3:10 pm

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