Missas
Fui coroinha, participando de missas celebradas em latim. Ainda menino decorei o “confiteor” e outras falas da língua mãe, dando continuidade às palavras dos padres que celebravam missas.
Já não era coroinha quando as missas passaram a ser rezadas em português. Não me habituei a ofertório, consagração, comunhão e outras partes da missa ditas em português. As vozes dos velhos padres, repetindo à exaustão o fraseado latino ainda ecoam na minha cabeça.
Hoje as missas são diferentes, havendo maior participação dos fiéis que compreendem em sua língua nativa o que se passa nos altares. Telões mostram letras das preces cantadas, estimulando os presentes a entoá-las. A missa tornou-se mais comunitária.
Semana passada assisti a uma missa numa grande igreja em São Paulo. Mais uma vez me defrontei com o desestímulo de seguir adiante, justamente por conta do sermão. Desde já aviso que não se espera a presença no púlpito de um padre do quilate de Antônio Vieira. Entretanto, muitas vezes somos postos a ouvir o sermão através de clérigo sem o menor pendor para falar em público. E como se alongam nas palavras mal colhidas, tantas vezes desnecessárias. A sacralidade do momento é abalada. O enlevo da entrega do espírito à proximidade com Deus é interrompido.
Não sei se nos seminários preparatórios para o sacerdócio existe empenho quanto à oratória. Deve existir. De resto, nem todo mundo é dotado de propensão para falar em público. De modo que seria de bom alvitre aos menos dotados abreviarem seus sermões.
Falar em público é complicado. Lembro-me de um colega de classe sorteado pelo professor para apresentar um trabalho de grupo. O rapaz era gago. Em vão tentou-se junto ao professor que o dispensasse do encargo. No dia sofremos algumas horas com a dificuldade do apresentador em expressar-se.
Nos meus tempos de coroinha conheci um padre que não era dado a fazer sermões. Nas missas que celebrava as coisas se passavam de modo sucinto. Após a leitura do evangelho o padre restringia-se a breves comentários, aliás quase sempre os mesmos. Ele substituía a dificuldade de expressão pelo encanto de belas celebrações. Os fiéis o adoravam.