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Vida de torcedor

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O Palmeiras foi eliminado na disputa pela Taça Libertadores da América. Ganhou jogando em casa, mas foi derrotado na cobrança de pênaltis. Na manhã seguinte gozava-se a gente palmeirense. Torcedores de outras equipes de São Paulo não perdoavam os palestrinos. Campeão brasileiro no ano passado o Palmeiras era tido como o melhor time brasileiro para este ano. Vários jogadores foram contratados, o técnico Cuca voltou a treinar o time, mas algo não está dando certo.

Os torcedores não palmeirenses torceram pela derrota do time palestrino.  Embora isso pareça natural é bom lembrar de que nem sempre foi assim. Nos meus tempos de menino torcíamos, em primeiro lugar, pelo time do coração. Quantas encrencas tive com meu irmão, alguns anos mais velho que eu, apaixonado pelo Corinthians. Dia de jogo entre o Corinthians e o São Paulo sentávamos diante do rádio e era pancada na certa. Ele, mais velho e maior, sempre levava vantagem. Mas, como resistir a um gol do time do coração narrado pelo Pedro Luís?

Depois do time do coração torcia-se pelo futebol do Estado. Se qualquer equipe paulista se defrontasse com adversários de outro Estado - ou do exterior - não havia dúvidas de que torceríamos pelos nossos. Naquela época a rivalidade entre Rio e São Paulo era enorme. Como torcer para Flamengo, Fluminense, Botafogo e Vasco quando qualquer um deles jogava contra uma equipe paulista? E no caso da seleção brasileira a questão envolvia a origem dos jogadores convocados. Não se aceitavam muito bem os do Rio.  Naquela magistral linha campeã do mundo em 58, só Pelé jogava em time paulista.

Por último, caso um time brasileiro enfrentasse um de outro país logicamente torceríamos pelos nacionais. Deixava de importar se eram equipes paulistas ou cariocas. Naquela época Rio e São Paulo eram os grandes centros do futebol. Outros estados eram menos expressivos.

Daí que ainda hoje estranho o prazer das torcidas adversárias em relação à derrota do Palmeiras. Não posso negar que também torci contra. Mas, o que mudou?

A resposta pode ser ampla. Mudaram o mundo, a sociedade e os costumes. Mudou o homem. Mudaram o companheirismo e o respeito ao próximo. Estes são tempos em que torcidas organizadas agendam brigas pela internet, não raramente com vítimas fatais. Tempos nos quais jogos entre grandes equipes locais são realizados com torcida única para evitar a violência. Tempos em que cada vez mais nos tornamos seres solitários e pouco afeitos aos problemas alheios. Tempos de arrivismo nos quais não sobra espaço para consideração aos semelhantes. Tempos em que se deseja que qualquer adversário, seja de qual tipo for, que ele se dane.

Escrito por Ayrton Marcondes

14 agosto, 2017 às 11:08 am

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