Dupla eutanásia
Ouve-se dizer que quem fala bem da velhice simplesmente mente. Não é difícil encontrar quem odeia a expressão “melhor idade”. Melhor idade para quê, pergunta-se.
A velhice é a fase na qual olha-se para trás, reveem-se os momentos vividos que se acumulam sob o manto do passado, e depara-se com a inevitável proximidade da morte. O idoso sabe que o tempo que lhe resta não é grande, além do que passa a prever dificuldades crescentes com o correr dos aniversários.
Filmes sobre esse período da vida nem sempre nos deixam confortáveis. O filme francês “Amour”, estrelado por Jean Louis Trintignant e Emmanuelle Riva, é desses aos quais não se assiste incolumemente. Os dois atores formam um casal de idosos, Georges e Anne, no período final de suas existências. Anne sofre uma cirurgia depois da qual se torna totalmente dependente do marido. Ele, bastante velho, esgota-se nos fazeres caseiros e atendimento às necessidades da mulher. A atmosfera do apartamento em que vivem reflete o isolamento e tensão do casal, raramente visitado pelo genro ou pela filha. O final, como se pressente, é trágico.
Casais que decidem morrer juntos geram notícias que nos espantam. O caso de Stephen Zweig, grande escritor que se refugiou no Brasil para fugir ao nazismo, é exemplar. Homem habituado à sociedade europeia, renomado, pesou a ele demais a vida isolada em Petrópolis. Encontraram a ele e à mulher, mortos em razão de terem se suicidado.
Agora noticia-se sobre um casal de holandeses que, aos 91 anos, decidiram-se pela dupla eutanásia. Depois de um acidente vascular cerebral, ocorrido há cinco anos, o homem teve limitação de suas atividades, muita dor e hospitalizações. A mulher esgotou-se e adoeceu ao cuidar do marido. Na Holanda a eutanásia é permitida embora seja necessária a autorização. No caso do casal em questão a autorização foi concedida. Assim, despediram-se das pessoas às quais estavam ligadas e entregaram-se à dupla eutanásia. Consta que disseram palavras amáveis um ao outro e morreram de mãos dadas.