Os”sem”
O Brasil é o país dos “sem”: sem-terra, sem-teto e outros mais aos quais agora se juntam os sem-namorado.
Os sem-namorado formam uma nação bem humorada. Dizendo-se cansados de ficar sozinhos, organizaram passeatas no Rio e em São Paulo. Entrevistados, alguns deles não se constrangeram em falar sobre a própria solidão e afirmar que chegou a hora de dar um basta nessa situação. O grande terror da maioria – declararam – é passar o dia dos namorados sozinhos.
E assim foram pelas avenidas, portando cartazes, fazendo muito barulho, divertindo-se, verdadeiro exército Brancaleone, a seu modo rindo da vida e tirando partido de algumas das suas tristezas. Seus gritos de guerra eram: “ado, aado, eu quero namorado” e “inho iinho, cansei de ser sozinho”.
Os sem-namorado fizeram mais que sair às ruas com a sua passeata aparentemente esdrúxula: lembraram-nos do Brasil alegre, piadista, capaz de rir de sua própria miséria, Brasil sem terno e gravata, esquecido de crises econômicas, país de torcedores fanáticos, gente capaz de se dar as mãos e sair por aí, participando de um movimento que, de repente, pode até virar moda e se espalhar pelo mundo.
Ado, aado, viva os sem-namorado e boa sorte pra eles.