No bunker de São Bernardo
Brasileiros, nunca se viu por aqui coisa igual. Dentro de um prédio de sindicato, cercado por militantes dispostos a tudo, um condenado pela justiça espera o momento de sua prisão. Esgotado o prazo concedido para que livremente se apresente permanece a incógnita sobre os passos a seguir. A imprensa ocupa-se de coberturas em tempo integral. Helicópteros sobrevoam o prédio para que o mundo tenha, ao vivo, imagens de uma situação que não muda. Toda sorte de críticos, comentaristas, juristas etc. aparecem a dar opiniões nem sempre concordantes. Um esquema impressionante preparado pela Polícia Federal para receber o ilustre condenado frustrou-se em Curitiba com o não comparecimento dele. Numa das varandas do prédio sucedem-se discursos de militantes que parecem dispostos a dar a própria vida pelo líder.
Mas, de longe, toda essa empolgação parece isolada. Não há como não ver no genuíno desespero da multidão certo desalento em relação a um ciclo que está para se encerrar. O grande líder, por duas vezes presidente da República, amado pelos seus seguidores, hoje é, infelizmente, pálida imagem do que foi. Recolhido a um mal preparado bunker, à mercê da lei, não mais dita as regras, já não comanda. Pálida imagem do que foi, repita-se, o homem Lula sucumbe diante da poderosa imagem que ele mesmo criou e na qual acredita integralmente.
Pois não será esse um dia de alegria para os brasileiros, sejam eles favoráveis ou contrários a Lula. As cenas a que assistimos representam o fim de um sonho no qual maiorias embarcaram e agora se negam a admitir seu fracasso. É sempre triste presenciar à capitulação de um comandante que se quer acima de tudo.
Dirão que aquele que tudo pode ressurgirá. Mas, nem mesmo os melhores futurólogos serão capazes de prever a trajetória de Lula daqui por diante.