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Vítima de bullying

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Na China um homem de 28 anos matou nove estudantes e feriu dez, todos com idades entre 12 e 15 anos. Matou-os esfaqueando-os. Preso, justificou-se, dizendo ter sido vítima de bullying nos tempos de estudante, daí odiar seus colegas.

No Brasil o ensino escolar tem mudado nos últimos 50 anos. Nem todo mundo sabe, mas pela metade do século passado o ensino era feito na base de porradas. Nunca me esquecerei do primeiro dia em que frequentei o Grupo Escolar no distrito em que morava. As crianças formaram uma fila, no pátio, em direção à porta de entrada da sala-de-aula. Aguardávamos ali quando veio em nossa direção um homem que seria o nosso professor. À frente da turma ele mandou que todos estendessem o braço direito com palmas das mãos voltadas para cima. E veio ele, criança por criança, batendo nas mãos com uma régua. Aquilo doeu. Era o início de uma vida escolar marcada por pancadas que, segundo se acreditava, serviam para manter a ordem e obrigar a atenção ao aprendizado.

No quarto ano tivemos um professor, um certo João, cuja paciência simplesmente inexistia. Batia-nos com fervor. Certa ocasião exagerou no castigo em mim. Ao chegar em casa, minha mãe - aliás adepta às boas pancadinhas - notou o exagero e mandou meu pai acertar as constas com o professor. Mas, a essa altura, o João não mais estava na escola e acabou ficando por isso mesmo.

Certa ocasião o João aplicou um direto na boca de um menino, o Felipe, que se sentava ao meu lado. Mesmo com o sangue escorrendo pelos lábios do menino, a aula prosseguiu como se nada houvera ocorrido.

Há poucos anos encontrei por acaso um antigo colega do quarto ano primário. Batíamos um papo quando ele, inesperadamente, perguntou-me se sabia onde encontrar o nosso professor João. Tantos anos depois a pergunta soou-me descabida. Afinal, para que nos importaria saber sobre o destino que levara aquele desgraçado? Pois o amigo explicou-me: queria encontrá-lo para meter a mão na cara dele. Apanhara tanto do professor nos tempos de criança que ainda o odiava. Jamais se esquecera daquele maldito que tanta humilhação e dor a ele causara.

Retorno ao chinês que matou e feriu estudantes, vingando-se neles do bullying que sofrera de colegas no passado. Certos ódios infelizmente nunca são superados, como o caso do meu antigo colega e classe. Daí que são necessários cuidados constantes e muita observação em relação a sinais de perseguição a alguém. O bullying praticado contra alguém indefeso pode despertar reações momentâneas ou futuras de grandes consequências.

Escrito por Ayrton Marcondes

28 abril, 2018 às 1:39 pm

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