Medos e memória
Um amigo me conta sobre sua mãe. A senhora de 90 anos tem a doença de Alzheimer. Ele relata que os problemas dela começaram no dia seguinte ao aniversário de 85 anos. Durante a comemoração da família a senhora esteve absolutamente normal. Entretanto, na manhã seguinte, levantou-se diferente, fazendo perguntas sobre coisas que até então eram de seu conhecimento. Hoje a mãe do amigo está alienada. Não reconhece pessoas de seu convívio, embora, vez ou outra, manifeste alguma lucidez. Diante da necessidade de cuidados permanentes a família decidiu-se por interná-la em clínica onde conta com todo o conforto e atenção. O filho a visita duas vezes por semana.
Pessoas em cujas famílias acontecem casos de esquecimentos na velhice preocupam-se que o mesmo aconteça a elas. Diagnósticos de Alzheimer preocupam ainda mais. Há nisso o horror da despersonalização. Tanto que o amigo que me falou sobre sua mãe também me disse ser favorável à eutanásia. Para ele toda pessoa deveria ter o direito de decidir sobre a continuidade de sua própria vida. No caso de esquecimentos progressivos, antes de se chegar ao estágio de Alzheimer, a eutanásia seria a solução.
Publica-se a possível relação entre vírus causadores do herpes e a doença de Alzheimer. Trabalho publicado na revista científica Neuron, relata que dois subtipos do vírus do herpes foram encontrados no cérebro de pacientes de Alzheimer em níveis até duas vezes maiores do que os achados no tecido cerebral de pessoas sem a doença. Esses vírus agiriam incrementando a resposta imunológica para a produção de proteínas amiloides. É o depósito dessas proteínas no cérebro que causa o Alzheimer. Aliás, segundo os pesquisadores, não só os vírus do herpes, mas também outros vírus teriam o mesmo efeito.
Deve-se dizer que, entretanto, a relação entre doença de Alzheimer e vírus não é unanimidade. Pesquisadores lembram de que o Alzheimer é doença complexa e, possivelmente, devida a vários fatores.