Livros e discos
Ainda tenho muitos Lps (long-plays) comprados quando nem mesmo existiam os CDs. As novas gerações não conheceram o mundo sem internet e celulares. Bons discos eram adquiridos nas casas do ramo, para os paulistas localizadas no centro de São Paulo. Levavam-se as preciosidades musicais para casa onde picapes Garrad as aguardavam. Nem de longe os equipamentos sonoros se aproximavam, em qualidade, dos que hoje dispomos. Existiam, sim, bons e raros equipamentos, mas muito caros. De modo que os ouvidos se habituavam ao som dos equipamentos disponíveis.
No tocante a livros sempre dispusemos de bons escritores no país. Ao contrário do que hoje se observa, verdadeira plêiade de grandes autores estavam vivos e produzindo. Poetas de primeira linha, romancistas e críticos publicavam suas obras. Além do que se contavam com boas traduções de grandes autores de outras línguas.
Ler é e sempre foi importante. Através da leitura adquire-se cultura e aprimora-se a formação humana. Nas casas de meus familiares sempre encontrei bons livros. De modo que acabei herdando o hábito de manter livros por perto. Com o passar dos anos fui montando uma pequena, mas selecionada, biblioteca. Muitos desses livros estão comigo até hoje. Infelizmente, nas andanças da vida a muitos deles perdi.
Tudo isso para confessar que, de tempos para cá, fui deixando de lado as obras impressas em papel. O diabo foi um amigo certo dia aparecer em casa com um livro eletrônico. A primeira coisa que fiz foi dizer a ele que de modo algum, jamais, trocaria um livro por uma engenhoca daquelas. Onde o prazer de ter o livro em mãos, anotar com o lápis, etc.?
Entretanto, aconteceu de vir a receber, de presente, um kindle. Olhe que resisti a ele, bravamente. Até que um dia… O caso é que se podem baixar pela internet obras de interesse e armazená-las na memória da engenhoca. De repente, anda-se por aí de posse de uma pequena biblioteca eletrônica a qual pode ser consultada a qualquer momento. E o kindle tem lá suas propriedades como as de permitir escolher o tipo e tamanho de fontes, fazer anotações, consultas a dicionários, marcações etc.
Já faz algum tempo que olho para os meus livros, tratando-os como companheiros a quem não frequento. Há pouco comecei a reler “o Homem sem qualidades” do Robert Mussil. No kindle… E dizer que a mesma obra repousa, em capa dura e papel, na minha estante…
Comecei falando sobre discos. Depois dos Lps vieram os CDs. Mantenho comigo grande número de CDs de jazz, música clássica e popular. Mas, também os CDs passaram ao segundo plano. De tempos para cá foi impossível não aderir ao Spotify. Milhares de gravações estão disponíveis no sistema pelo qual pode-se ouvir qualquer tipo de música e continuamente.
A conclusão é a de que se tornou impossível resistir aos avanços da tecnologia. Não se podendo adivinhar o futuro não dá para imaginar sobre o que nos espera em termos de mudanças no modo de vida e disponibilidade de artefatos eletrônicos. A inteligência artificial tem avançado e robôs quase humanos deverão circular por aí em tempo não muito distante.
Por enquanto a vida humana continua a ter duração limitada, raramente as pessoas ultrapassando os 100 anos de idade. Mas, também isso pode mudar. Quem viver nas próximas décadas certamente verá e desfrutará de recursos hoje inimagináveis.