Orlando da Mata
Não se nega que entre idosos exista o receio de ficarem sozinhos. A morte de um dos parceiros de um casal deixa aquele que sobrevive em situação quase sempre complicada. São inúmeros os casos de pessoas que se veem obrigadas a viver na casa de filhos, isso em geral contra suas vontades. Há também os casos de recolhimento a abrigos onde os velhos são cuidados até que a morte os leve.
Cada família terá histórias a contar sobre o destino de entes queridos após atingirem idades nas quais já não conseguiam cuidar de si próprios. Ainda que tratados com muito amor a situação de dependência por si só se torna razão de sofrimento para pessoas idosas.
Conheci uma senhora que se manteve solteira até os 50 anos. Terá sido o receio de enfrentar a velhice sozinha que a levou a aceitar a proposta de casamento de um militar aposentado, sujeito de bom aspecto e de muita saúde.
Assim, casaram-se. Eis que o tal - chamava-se Orlando da Mata - revelou-se bom marido e companheiro. Cuidava bem da esposa e era dado a viagens e passeios. Entretanto, tinha lá suas esquesitices. Uma delas, a de ser adepto do nudismo. Pois esse Orlando jamais se vestia quando estava em sua casa. Fosse alguém visitá-lo teria que se entender com ele tão nu como fora nascido.
Para a mulher esse modo de ser figurava-se inaceitável. Pior ainda nas ocasiões em que ele frequentava campos de nudismo e insistia com ela para que também se apresentasse nua.
No correr dos anos perdi contato com essas pessoas. A essa altura, decorridos tantos anos, é certo que já tenham morrido. Não sei quem terá falecido primeiro, deixando o parceiro sozinho, de vez que não tiveram filhos.
Em todo caso, vale recordar que o Orlando da Mata era um bom sujeito. Naqueles anos em que o som estereofônico era novidade, ele ficava horas ouvindo músicas. Tinha grande prazer em detectar a divisão de instrumentos nas caixas de som e elogiava muito os avanços da tecnologia naquela época.
Eu era um rapazote quando, certo dia, minha avó me mandou levar uma vasilha à casa do Orlando da Mata. O homem que me recebeu à porta estava nu. Entreguei a vasilha à mulher dele que estava na cozinha. Na volta dei com aquele sujeito pelado, sentado no sofá da sala, ouvindo seu som estereofônico. Essa a imagem que guardei do Orlando, peladão convicto.