Carnaval
A festança se aproxima no país do carnaval. Por quatro dias os foliões se entregarão a alegrias, danças, bebedeiras, farras e muita luxúria. As baterias das escolas despertarão de seu sono. Ficam em paz durante um ano para explodir nas ruas e praças durante o carnaval. Isso sem falar nos majestosos e ricos desfiles das grandes escolas nos sambódromos. As imagens desses desfiles são maravilhosas e correm o mundo. Mais que nunca a imagem do Brasil se plasma às de mulheres maravilhosas, seminuas, deusas que despertam paixões. Que poderia um habitante da gelada Sibéria contra a força dessas massas carnosas que durante o ano apuram suas formas para desfilar no carnaval?
Nas ruas, blocos que arrastam, atrás de si, multidões. Nenhum canto do Brasil parece estar imune a Momo. O rei do carnaval sempre encontrará, em cada lugar, uma alma que, ao pressentir a festança, ainda que longínqua, a ela se renderá. O carnaval convida ao encontro, à permissividade. O carnaval sempre pertencerá àquele folião perdido nos cordões que só retornará à casa na quarta-feira, conforme nos ensinou Ari Barroso.
Verdade que o carnaval mudou. Coisa esperada. Ele mesmo filhote do entrudo que varria as ruas no início do século 20. Para muitos a folia de hoje pode causar certa estranheza. Já não se ouvem as marchinhas. Ficaram para trás as músicas cantadas pelas rainhas do rádio que tanto encantavam os brasileiros. As “Mamãe eu quero”, “Me dá o dinheiro aí”, “A jardineira” e tantas outras. Sim, ocasionalmente são cantadas. Mas a força está do lado do axé que enlouquece multidões.
Nos desfiles de blocos os caminhões de som pelos quais transitam artistas famosos propaga-se a nova música. Trios elétricos famosos e tão aguardados. Acontece em toda parte, mormente nas grandes capitais. No Rio, no Recife, em São Paulo, Salvador… Como fugir ao encanto do “Galo da Madrugada” que arrebata milhares de foliões nas ruas de Recife? É só comprar o abadá e sair atrás, quem sabe até na pipoca.
Folião nasce. Não é necessária nenhuma conversão. Fora com essa história de que “passei a gostar”. O certo é dizer: “não sabia que gostava”. De repente, ao dobrar a esquina, o sujeito ouve um repique e pronto: começa ali o folião, vindo do berço, sem mais, nem menos.
Pelas TVs recomendam-se cuidados especiais durante o carnaval. Evitar acidentes, violência, bebedeiras… Amor ao próximo não faz mal a ninguém.
Mas que ninguém se engane: o carnaval liberta o Mr. Hide que se esconde sob a capa que usamos no dia-a-dia. Cabe a cada um controlar o monstro. Afinal, tudo se acaba na quarta-feira.