O primeiro homem
Naquele dia de 1969 eu estava em casa de alguns conhecidos. Era então nada mais que um rapazote imerso na bipolaridade do mundo e vivendo sob a ditadura militar. Conversávamos sobre banalidades até que alguém se lembrou de ligar a TV para assistirmos à chegada do primeiro homem à Lua.
As imagens em preto-e-branco eram exibidas na telinha diante de pessoas incrédulas. Dos mais velhos ali presentes ouvi que aquilo não passava de montagem cinematográfica. Coisa de americanos, grandes proprietários da indústria do cinema. O “pequeno passo para um homem, mas salto gigantesco para a humanidade” palavras proferidas por Neil Armstrong no momento em colocou os pés no solo lunar foram ouvidas por alguns com ceticismo.
Anos antes, em 1964, John Kennedy prometera ir à Lua, justamente por ser difícil. A competição espacial com os russos dava o tom das disputas entre os dois blocos hegemônicos. A NASA vencera a corrida espacial colocando o primeiro homem na Lua.
Entretanto, ao assistir à chegada do homem ao vizinho satélite, certamente não fazíamos ideia sobre a natureza dos esforços envolvidos naquela realização. Aliás, nem mesmo nos passava pela cabeça quem seria aquele americano chamado Neil Armstrong que, naquele momento, entrava para a história.
Confesso que só agora, ao assistir ao filme “O primeiro homem” vim a ter ideia sobre a enormidade da aventura espacial americana. Não seria demais até mesmo taxá-la como rematada loucura. De fato, o filme nos coloca no lugar de Neil Armstrong nos momentos em que navegava na órbita terrestre, pilotando protótipos não muito bem-acabados. Estar sozinho a grandes alturas, testando protótipos que, caso caíssem, colocariam termo à vida constituía-se em desafio para poucos. Armstrong e os demais astronautas eram seres de rara frieza diante dos perigos, pessoas imbuídas de espantosos níveis de autodeterminação. Daí não ser tão espantoso o fato de justamente homens de tal natureza arriscarem-se naquela que seria a bem-sucedida aventura da Apollo 11.
Decorridos cinquenta anos do feito espacial americano, ainda hoje ele nos figura incrível. Demonstra a natureza desse animal chamado homem, capaz de superar obstáculos e seguir em frente, desafiando até mesmo o espaço que rodeia o planeta onde vivemos.