Cotidiano
Resistência a escrever. Abro o Word, vejo a tela em branco e nada. Por quê? Tenho pensado nisso. Afinal se há anos tenho rabiscado aqui algumas letrinhas como justificar tão prolongada pausa? Desistência?
Depois de algumas ponderações creio ter me aproximado de alguma explicação: trata-se de recusa a pensar o cotidiano. Tamanha a crise que enfrentamos e tão monumentalmente desregradas as medidas tomadas na condução do país que o melhor é submergir, tapando olhos e ouvidos.
A prova de redação da FUVEST, no último domingo, teve como tema pergunta sobre a desordem no mundo. Os vestibulandos deveriam analisar o contexto atual e opinar se há ordem ou desordem no mundo. Não sei o que terão escrito, mas acho difícil ver ordem em meio à confusão reinante.
Talvez as gerações precedentes tenham imaginado que a sociedade humana seguiria evoluindo em direção à ordem e a paz. Calcavam-se eles no possível aprendizado com a experiência adquirida em dois conflitos mundiais. Nesse caso não se levou em conta a entropia gerada pela dependência das ações do homem. O homem é insaciável na luta pelo poder. Quem nega a isso?
Passados alguns séculos do início do domínio humano no planeta, superadas em parte necessidades básicas, tendo em vista os formidáveis avanços na área da tecnologia, não há como não observar tantas conquistas com muito desdém. Escancaram-se as desigualdades sociais, as políticas vantajosas aos mais ricos, o desprezo para com as minorias, as revoltas quase sempre sufocadas, a fome… A impressão é a de algo que não só não deu certo como a de que não terá condições de vir a dar certo.
Abrir a janela pela manhã e encontrar o dia ensolarado ainda surge com prêmio. O mundo é pleno de belezas, a natureza pujante. Mas, há algo de errado nisso tudo, algo que nenhuma doutrina consegue explicar inteiramente.