O retorno de La Hoya
Ouço alguém que não gosta de boxe afirmar que se trata de esporte estúpido. Essa pessoa pergunta: já viu a cara do vencedor ao final da luta? E responde: o vencedor também está arrebentado, portanto não vejo sentido nisso.
Para quem tem a opinião acima não adianta dizer que o boxe é esporte cuja vitória depende unicamente de um só indivíduo envolvendo preparo físico, técnica, eficiência de golpes, ataque, defesa e muita violência. O público ama o boxe porque vê nele a figura do homem em superação, esforçando-se ao limite, apanhando, mas seguindo em frente e só desistindo quando um inesperado nocaute põe fim à luta. No boxe é o lado animal do homem que se expõe e talvez o fato de podermos observar a parcela de selvageria que nos fez vencer na escala evolutiva seja o principal atrativo nas lutas.
A busca da vitória a qualquer preço, a estratégia adotada, a elegância de movimentos e o inevitável derramamento de sangue são componentes figurativos do boxe que em parte nos devolvem o clima das arenas antigas, como as romanas nas quais gladiadores matavam-se entre si ou enfrentavam leões. O clima de desafio em que o homem é frontalmente colocado diante do perigo constituiu-se em atrativo para as multidões em todas as eras: as touradas atuais são remanescentes de esportes praticados por povos bárbaros do passado.
No boxe a figura do lutador reúne características que o convertem no representante do espectador diante de perigoso desafio. A ligação que se estabelece entre o homem que luta e o que o assiste é total. Alguém está lutando por nós, batendo por nós, apanhando por nós, sangrando por nós, conquistando por nós, atrevendo-se a limites talvez sonhados por nós. Ao lutador cabe alcançar a vitória tendo como recompensa a glória e, em certas condições, a riqueza. O reconhecimento de suas qualidades faz dele um ídolo. Talvez por isso seja tão difícil a muitos pugilistas encerrar definitivamente as suas carreiras, como aconteceu com Joe Louis.
Joe Louis (1914-81), grande campeão dos pesados durante dez anos, tem em seu cartel duas memoráveis lutas contra o alemão Max Schmelling. Na primeira Louis foi derrotado e o resultado dessa luta foi utilizado por Hitler para demonstrar a superioridade da raça ariana. Na segunda luta, travada m 1938, Louis venceu recuperando o título mundial. Depois disso abandonou os ringues, mas, dois anos depois, retornou sofrendo várias derrotas.
Os amantes do boxe estão habituados a ciclos de vitórias e derrotas, abandono de carreiras e retornos nem sempre felizes. Agora é anunciado o retorno aos ringues, aos 36 anos de idade, do ex-campeão mundial em seis categorias, Oscar de La Hoya, apelidado “The Golden Boy”. Os aficionados do esporte movimentam-se, surgem grandes expectativas e uma história de arte e violência talvez tão velha como o próprio homem renasce, apaixonando e atraindo multidões. Nos punhos de La Hoya estarão mais uma vez, caso retorne, as expectativas de milhões de torcedores, mantendo viva a esperança de superação que existe em cada um deles.