Cidadãos Acima de Qualquer Suspeita
Em recente discurso o presidente do Senado, defendendo-se de acusações de nepotismo, alegou seu passado de honra e serviços prestados à República na qual, inclusive, ocupou a presidência. Discurso duro de quem acredita no que está falando e, mais que isso, sente-se justificado. A República deve a ele, portanto.
Em suma, o tom das palavras do presidente do Senado propõe-se a lembrar a nação que de não se está a acusar qualquer um: é a um ex-presidente que se está cobrando, a ele querem atingir maculando o seu passado.
Curiosamente o atual presidente da República logo em seguida veio a público referendar as palavras do presidente do Senado, conferindo a ele irrestrito apoio.
Existe, pois, entre nós uma hierarquia de erros e faltas ao que parece baseada em pelo menos dois critérios: o grau de gravidade das faltas e a importância da pessoa que as comete. Assim, faltas consideradas desimportantes dentro de contexto maior e cometidas por pessoas acima de qualquer suspeita não merecem qualquer tipo de reprovação.
No Brasil vigora uma lógica perversa de interpretação de fatos. Ao cidadão comum fica cada vez mais difícil discernir entre o certo e o errado. Episódios como esse envolvendo o presidente do Senado só contribuem para confundir ainda mais a noção de valores da população.
Para os mais velhos talvez seja mais fácil entender o que está acontecendo; aos mais jovens nada disso serve como exemplo de conduta.