O Velho e o Novo Senado
“O Velho Senado” é um texto de Machado de Assis que faz parte de seu livro “Páginas Recolhidas”. Nesse texto Machado fala sobre o Senado de 1860 no qual, a convite de Quintino Bocaiuva e ainda muito jovem, atuou como redator do “Diário do Rio de Janeiro”.
Peça literária e documento de grande importância “O Velho Senado” fala sobre homens e suas ações no Senado do Império. Através das páginas de Machado de Assis conhecemos mais de perto personagens da nossa história como Sinimbu, Paranaguá, Itanhaém, Zacarias, Caxias, Ouro Preto e Monte Alegre. Sobre muitos deles recorda Machado que haviam sido contemporâneos da Maioridade, algum da Regência, alguns do Primeiro Reinado e da Constituinte. Diz Machado de Assis sobre os senadores:
“Tinham feito ou visto fazer a história dos tempos iniciais do regime, e eu era um adolescente espantado e curioso. Achava-lhes uma feição particular, metade militante, metade triunfante, um pouco de homens, outro pouco de instituição.”
Homens que fizeram ou viram fazer a história, um pouco de homens, um pouco instituição! Nas palavras de Machado de Assis o retrato dos senadores do Império, o perfil de um senador ainda que por vezes movido pelas paixões políticas e sujeito a deslizes. Mas, antes de tudo, homens partícipes de uma instituição que deve obrigatoriamente ser honrada porque faz história.
Da leitura de “O Velho Senado” para o Senado da República em 2009: do jeito que se arrasta, a crise do Senado vai sendo incorporada à galeria de fatos tétricos da história do país. Não há dia em que não se divulguem acréscimos a uma sequência de acontecimentos que denigre a imagem dos políticos brasileiros e ameaça manchar para sempre toda a categoria. O que acontece no Senado compara-se àqueles filmes de terror cujos enredos nos chocam e infelizmente grudam nas memórias.
Como pode ser que um grupo de homens, aos quais foram democraticamente atribuídas as maiores responsabilidades, se comporte de modo tão absurdo?
O Senado Brasileiro mais parece uma grande sala sem espelhos onde as pessoas que ali atuam não se veem durante a execução de seu ofício enquanto senadores. Velhas raposas não experimentam o menor rubor ao exibir as felpudas mantas que os protegem. Outros realmente se creem invisíveis como se fora do teatro onde se desenrolam as ações do Senado não existissem olhos para vê-los. É assim que passados de militância e posturas aparentemente progressistas sucumbem à voracidade de necessidades prementes, acordos obscuros perpetrados com a única finalidade de manter interesses e certas aparências.
Pois olhem que cresci em época na qual dizer que alguém era senador suscitava reverência e atitude respeitosa. Quando morria alguém que pertencera ao Senado, com que respeito se dizia: ele foi Senador da República. Valia como currículo. Sombras em sua trajetória, se haviam, em geral não eram suficientes para encobrir a imagem de dignidade do falecido. Hoje? Ora, nem é preciso responder.
Acobertados pelos governantes e mancomunados no sentido de encobrir toda sorte de corrupção os membros do atual Senado não dignificam a instituição à qual temporariamente pertencem. Obviamente existem honrosas exceções que, entretanto, revelam-se insuficientes para restaurar o clima de confiança do país.
A atual crise do Senado não encontra paralelo em crises vivenciadas pela instituição no passado. A pressão da população e da imprensa é fundamental para que venha a existir uma reforma administrativa e radical mudança de hábitos dos senadores. E o país terá oportunidade de intervir diretamente na composição do Senado nas eleições de 2010. Será através do voto que a população terá oportunidade de dar o seu veredicto sobre o tormentoso quadro de irresponsabilidade e impunidade que, atônitos, assistimos.