Notícias atrasadas
As vanguardas terminaram e muita gente até desconhece que tenham existido. O movimento impressionista que marcou o início da modernidade nas artes há muito deixou de ser novidade de vez que incorporado aos hábitos e modos de ver e pensar. Obras impactantes transformaram-se em moeda corrente da cultura fazendo com que seus autores até mesmo decaíssem de sua condição de revolucionários.
A sociedade de consumo, ávida de novidades e meios de atingir consumidores procura infatigavelmente produções inéditas que caiam no gosto geral e se revertam e negócios rendosos. Há sempre alguém de atalaia à cata de algo diferente, um texto, um som desconhecido, uma tela com tintas revolucionárias, uma vestimenta inovadora, um discurso novo e comovente, ou qualquer inovação que venha a ser bem recebida pela crescente massa de consumidores.
O que se exige é que o novo tenha como atributo ser palatável, se possível de fácil digestão e que não cobre de seus possíveis receptores grandes esforços intelectuais. Em torno dessa exigência e em acordo com a velocidade das informações surge, em vários setores, uma nova geração de produtores de cultura para consumo que não se caracterizam exatamente pelo bom gosto e qualidade de suas criações. Nesse sentido, as tramas das telenovelas que se arrastam com peripécias e dramaticidades românticas representam apenas a ponta do iceberg. Desnecessário lembrar que há dois mil anos autores gregos já recomendavam cuidados com o alongamento das narrativas, exagero de peripécias e agressões à verossimilhança. Essa notícia parece não ter chegado até nós de vez que assistimos diariamente a um vai-e-vem de situações, muitas delas paralelas ao tema central e que nele não interferem, não interessando, portanto, ao verdadeiro fluxo da história que é narrada.
Entretanto, o que importa realmente dizer é que vários setores que produzem cultura para consumo em massa buscam inovar apenas pela quebra de paradigmas, muitas vezes atualizando conquistas anteriores que tomam como suas, revestidas que são por roupagens adequadas ao gosto popular. Desse modo, as primitivas modas de viola e canções caipiras cedem lugar ao rendoso mundo da música sertaneja, surgem novos impressionistas que abusam dos traços sem saber de fato pintar e aparecem escritores cuja arte consiste em desenredar e avançar em experimentalismos de linguagem já utilizados no passado, mas agora tomados como novos e aplaudidos por uma crítica carente de metodologia.
Entre outras finalidades o passado existe para que possamos verificar o que fizeram e construíram os homens que viveram antes de nós. Notícias atrasadas sobre conquistas anteriores servem-nos como direcionamentos para possíveis e verdadeiras inovações. O que há é que vivemos sob a ditadura de inúmeras produções culturais de baixo nível que não educam e não formam um público apto a discernir entre boas e más criações intelectuais. Como sempre, circulam por aí honrosas e generosas exceções que, infelizmente, nem sempre chegam a popularizar-se e mostram-se insuficientes para restaurar o império do bom-gosto.