Crença e ciência
De um lado a Igreja e seus dogmas; de outro a ciência em constante progresso. Exemplos recentes retratam áreas de choque entre a crença e o conhecimento científico. Um deles refere-se à visita do Papa à África, continente onde impera a pobreza e é grande a disseminação de doenças. O Papa recomendou aos fiéis que não usem camisinhas, opondo-se a todos os apelos feitos em contrário pelas organizações de saúde. Outro é o abominável caso do homem que engravidou menina de nove anos de idade. O médico que fez o aborto foi excomungado por um bispo brasileiro, ato que despertou condenações no Brasil e fora dele.
Pecou, sim e gravemente, o homem que estuprou e engravidou a menina; pecado maior fez o médico ao realizar o aborto – justificou-se o bispo.
Disso tudo uma coisa é certa: a Igreja não vai mudar e a ciência não vai parar de evoluir. Talvez alguém diga: olha aí, de repente a Igreja muda, pode acontecer. Será? Sinceramente não creio, embora revisões ocorram de vez em quando. Baseio-me num comentário que ouvi de um padre, certa vez. Formado em Roma e muito culto, o padre justificou a Igreja quando me referi atitudes papais que, pelo menos aparentemente, confrontavam o bom senso e a evolução dos conhecimentos. Disse-me o padre que as épocas geram suas ideologias e cada época cuida de seus problemas ao modo dos homens do seu tempo. Verdades tidas como absolutas podem deixar de sê-lo ao longo dos séculos. Isso não acontece com o cristianismo que é o mesmo há dois mil anos, ainda que muito combatido.
Sendo contestado por vinte séculos o cristianismo sobreviveu. Suas verdades estão, portanto, acima de movimentações e especulações temporárias e feitas ao sabor dos conhecimentos e modos de pensar de cada época. Em suma, o cristianismo é intemporal e a ele pertence o início, o fim e a verdade de todas as coisas. Já a ciência…
Assim falou o padre.
É crer ou não crer.
Fé não se discute.