Fotos Digitais
De que o mundo das fotos digitais é fascinante não restam dúvidas. Hoje em dia você não precisa pensar muito antes do clique: se errar a sua máquina é dotada de memória que permite muitas outras tomadas, seguidas se quiser. Tem mais: o resultado é instantâneo. A telinha da sua máquina mostra a foto na hora e você tem até a opção de descartá-la caso não goste dela.
O grande problema de alguns avanços tecnológicos é que, por suas qualidades de interação com o usuário, são incorporados aos costumes como algo que existiu desde sempre. As múltiplas facilidades inerentes a eletrônicos de vários tipos, cada vez menores e portáteis, fazem deles produtos rotineiros e integrados aos hábitos das pessoas. Quem imagina um mundo sem computadores, sem o editor de texto que estou usando para escrever essas mal traçadas?
Outro dia em conversa com um jovem percebi certa dificuldade dele em compreender coisas ocorridas há algum tempo, quando não dispúnhamos das facilidades de hoje. Afirmar, por exemplo, que há poucos anos ligações só podiam ser realizadas a partir de telefones fixos causa tanta estranheza que mesmo nós talvez tenhamos nos esquecido disso.
O fato é que as coisas nem sempre foram assim e talvez em poucos anos possamos dizer o mesmo ao nos referirmos à época em que atualmente vivemos. Se ficarmos apenas no território das câmeras fotográficas, tanta coisa mudou que custa lembrar como tudo era muito diferente.
A primeira câmera boa que consegui comprar foi uma reflex da Assay Pentax, com objetiva intercambiável. Aquilo era o máximo. Claro que se usavam filmes coloridos de 12, 24 o 36 poses. A conhecida rotina iniciava-se com o ato de fotografar, a retirada do filme da máquina, a entrega do filme a um laboratório de revelação e o recebimento das fotos impressas, em geral dois ou três dias depois. Só aí se podia ver as fotos, mesmo as imprestáveis. Claro que existia a possibilidade da revelação ser feita num laboratório mais profissional. Nesse caso fazia-se um copião com miniaturas, escolhiam-se as fotos de interesse que depois eram impressas no tamanho desejado. Detalhe: nada disso ficava barato.
Tudo muito diferente desse mágico clique que grava a foto numa memória de vários megas na qual cabem, às vezes, centenas de fotos, todas observadas na hora em um pequeno monitor da própria máquina. Isso para não falar nas impressoras de fotos, de baixo custo. Com elas, em segundos, qualquer pessoa pode imprimir em casa as suas fotos sem perder tempo de levá-las a laboratórios de impressão.
Bem, para que lembrar o passado e falar sobre tecnologias superadas que não tem hoje grande interesse, exceto para alguns profissionais da área de fotografia? Ah, o problema é que o homem continua a ser o mesmo daí ter-se perdido alguma coisa referencial com tantas mudanças. Pois havia certo carisma na tecnologia ultrapassada. Não tirávamos foto à toa e de qualquer jeito, nem acumulávamos milhares delas sem saber bem o que fazer com elas. Havia, também, certo mistério e apreensão em relação às fotos porque não sabíamos de antemão se teriam ficado boas. Um aniversário, uma festa em família, uma viagem: e se as fotos não saíssem ou ficassem ruins? Mais: escolhíamos as boas entre as poucas e com que prazer as mostrávamos a outras pessoas.
As máquinas fotográficas digitais são práticas, excelentes e insubstituíveis. De tal forma são simples e úteis que afetaram o mistério da fotografia e com ele parte do prazer em fotografar. O automatismo das máquinas refreou o interesse e a inteligência aplicada a uma estimulante técnica de captura de momentos que não voltam.
Saudades de uma velha Rolley-Flex, modelo caixote, que emprestei a um amigo que nunca mais a devolveu…
Você talvez não concorde com nada disso e ache todo esse saudosismo pura besteira. É que você é um cara do futuro.