Corda no Pescoço
Sobre Corda no pescoço
- Preste bem atenção: aqui começa o outro mun¬do. Quando você entrar, seus valores virarão de cabeça para baixo.
Essa fala, dita por um policial a um repórter antes de chegarem a uma favela, dá a tônica de Corda no Pescoço: uma viagem alucinante pelas entranhas de um mundo onde seres limítrofes se agitam e buscam-se numa atmosfera onde nenhum encontro parece possível.
Um inspetor de polícia é acometido por estranhas visões. Em torno desse fato, desenvolve-se uma trama que oscila entre o real e o fantástico e onde os arquétipos se desmitificam: a fronteira entre bem e mal se liquefaz, a contenda entre ação e pensamento revela-se ambígua, ine¬xistem heróis e os seres se esgarçam na dura realidade que os obriga à sobrevivência.
Corda no pescoço não é um relato policial. Antes, o Autor serve-se da trama policialesca para introduzir o leitor num ambiente em que, através de profunda análise psicológica, geram-se personagens de grande dramaticidade e plenitude. Esses personagens, envolvidos em situações paradoxais, comovem-nos pois por entre seus erros a acertos sempre está a brilhar a chama que os identifica como sobre-tudo humanos e, portanto, nossos semelhantes.
Seguindo por esse caminho, o Autor consegue dar à história um ritmo vertiginoso e rico em ação onde, não raro, a crueza dos fatos nos leva ao confronto com terríveis fantasmas que nos habitam mas que insistimos em olvidar.
Corda no pescoço é romance denso e um convite à reflexão. As palavras do policial ao repórter servem ao leitor como advertência: de fato aqui estamos diante de um outro mundo, revelado com maestria através de uma aventura ficcional de vanguarda, onde a multiplicidade de focos narrativos garante grande beleza estética.
O leitor, chamado a participar de uma narrativa tão insólita, reencontrar-se-á, ao longo das páginas desse livro, com uma ficção de alto nível e elaborada com o mais genuíno prazer em contar histórias.