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Televisão e lazer
Já faz algum tempo que fui convertido no tal “assinante” de TV a cabo e me rendi à assinatura de revistas semanais e mensais. No caso da TV a cabo não tive escolha: o prédio em que moro, como a maioria, abdicou da velha antena coletiva que permitia a sofrível recepção dos canais abertos. Já em relação às revistas não foi possível evitar o assédio das editoras que sabem explorar muito bem as nossas fraquezas através de uma bem sucedida campanha sobre necessidade de informação associada à qualidade das publicações e prazer da leitura.
Dirão que só participa quem quer, ninguém é obrigado a assinar nada e assim por diante. Discordo. Sou daqueles caras que tem mania de assistir a televisão e considero esse hábito essencial dado o escasso tempo que disponho para o lazer. A verdade é que a telinha está dentro de casa, não preciso me locomover para entrar em contato com o mundo através de noticiários, shows musicais, filmes e todo o conteúdo de uma programação exibida 24 horas por dia. Então, qual é o problema?
O problema da TV a cabo é justamente a qualidade da programação. Não importa que as assinaturas dêem direito a tantos e tantos canais porque na maioria deles observa-se uma incansável repetição de programas capaz de irritar até mesmo o mais penitente viciado em televisão. Quem duvida que assine essa novidade chamada HD: verá que na verdade poucos canais (cerca de meia-dúzia, no interior) transmitem com a nova tecnologia e, ainda assim, nem todos os programas vão ao ar dentro do novo formato. Pior que isso é a repetição contínua, sendo que um dos canais testa a paciência do assinante através da transmissão, horas a fio, de uma overdose de episódios dos Simpsons. Haja atração pelo Homer Simpson e sua gente que resista à maratona da série exportada pela TV norte-americana.
De algum modo é importante frisar que estamos falando de lixo cultural embora seja necessário reconhecer que, como sempre acontece em relação ao joio, encontra-se algum trigo no meio dele. Há, sim, bons programas, mas destaque-se que isso não representa ao menos a média da programação.
Escrevo sobre esse assunto porque, dias atrás, conversando com um amigo, ele discordava da minha opinião, dizendo que a variedade tem a vantagem de oferecer matérias para todos os gostos. Acusava-me ele de exigir uma programação elitista num país onde grande parte da população é inculta e não preparada para tanta sofisticação. Para esse meu amigo os tais programas populares que expõem as vísceras do cotidiano dos menos favorecidos podem ser um espelho cruel da sociedade, mas o fato é que divertem na medida em que substituem a antiga fofoca entre as famílias que antes se reuniam para uma boa troca de conversa mole.
Devo admitir alguma razão ao meu amigo, ainda mais em se considerando que hoje em dia, mesmo nas periferias, as pessoas não correm o risco de se reunir à noite, primeiro por falta de tempo, depois pela insegurança em sair de casa, pelo menos nas cidades maiores. Por outro lado, destaco que justamente a televisão torna-se ferramenta eficaz, talvez a única, capaz de alcançar toda sorte de pessoas em suas casas em momentos de lazer, daí sua obrigação em ser veículo de matérias mais educativas ainda que exibidas de forma subliminar.
Obviamente essa discussão pode ir muito longe, mormente se adentramos o território das telenovelas que ditam hábitos à população, os programas de auditório que muitas vezes escandalizam o público e os noticiários policiais que banalizam o crime na medida em que o divulgam de forma detalhada e ininterrupta. Faz-se muito dinheiro à custa da desgraça coletiva explorando-se a atração natural das pessoas pelo insólito que existe no cotidiano.
Entretanto, eis que me desencaminho. Na verdade comecei a escrever sobre esse assunto para reclamar dos filmes exibidos na televisão, sempre os mesmos, raramente novidades, impondo-se por uma repetição que não condiz ao preço que pagamos mensalmente pelas assinaturas de TV a cabo. Acontece que eu não consigo deixar de lado a televisão e não custa reclamar. Vai que por grande sorte alguém responsável pela programação de filmes da televisão leia um texto como esse e se sensibilize. Daí que a minha intenção é mesmo fazer uma corrente em prol da melhora da programação. Se você aí concordar com o que estou dizendo e tiver algum meio de divulgar a sua insatisfação, não deixe de fazer isso: quem sabe alguém importante escute e as coisas se modifiquem.
Para terminar, aproximam-se as eleições de 2010 e virão os horários políticos no rádio e na televisão. Nada contra a necessidade dos candidatos divulgarem os seus programas de atuação caso sejam eleitos, mas todo mundo sabe que não é bem assim: as coalizões realizadas entre os partidos, sabe-se lá a que preço, garantem mais tempo de propaganda durante o qual são feitas promessas sedutoras quase nunca cumpridas (para ficar no mínimo sobre o que acontece).
Será que existe algo que possamos fazer em relação a isso?
A negativa da ministra-chefe
O depoimento da ministra-chefe da Casa Civil, Dilma Rousseff como testemunha no processo movido pelo Ministério Público contra 39 réus no caso do mensalão constitui-se numa peça e tanto pela natureza do seu conteúdo.
A ministra-chefe negou a existência do esquema do mensalão, dizendo ser impossível que partidos políticos exigissem “vantagem financeira”; afirmou que ex-ministro da Casa Civil e deputado cassado José Dirceu (PT-SP) é um “injustiçado”; negou conhecer o empresário Marcos Valério Fernandes de Souza, tido como o “operador” do esquema do mensalão; elogiou deputado Paulo Rocha (PT-PA), que renunciou ao mandato para se livrar de condenação na época do escândalo do mensalão; e defendeu o ex-deputado Professor Luisinho (PT-SP), que não se reelegeu depois da denúncia do mensalão. São informações publicadas pela imprensa.
E agora? O que nos resta para pensar? Senhora ministra-chefe, a senhora que é pré-candidata à presidência da República, considere, por favor, a situação em que ficamos todos nós, os eleitores que votarão em 2010. Afinal, em quem devemos acreditar? No depoimento que a senhora fez sobre o mensalão aí Centro Cultural Banco do Brasil (CCBB), sede provisória da presidência da República, em Brasília? Ou em tudo o que aconteceu naquele terrível espaço de tempo durante o qual a República teve aberto o seu ventre para a exposição de acusações terríveis que tanto nos chocaram?
Eis aí uma situação que se enquadra à perfeição dentro de um sistema binário do tipo aconteceu/não aconteceu, verdade/mentira etc. Num sistema desse tipo está-se no território que os matemáticos chamam de eventos mutuamente exclusivos, nos quais a ocorrência de um significa a não ocorrência do outro. Enfim: se existiu ou não o mensalão, e ponto final.
Dirão que não é tão simples, o evento em questão é muito complexo, etc. Mas numa coisa devemos insistir: detalhes à parte, nós precisamos saber se afinal houve ou não o mensalão porque o que está em jogo é a confiança que temos nas instituições, nos políticos, nos candidatos que se apresentarão às próximas eleições e, por que não, na imprensa.
O povo brasileiro é calmo e ordeiro, gosta de festa, adora foguetório e quase sempre esquece muito depressa tudo o que acontece, especialmente aquilo que o incomoda. Mas a história do mensalão, essa aí ainda não foi possível esquecer. Afinal, a imensa massa de brasileiros que trabalha e paga taxas muito altas de impostos foi, durante um bom tempo, bombardeada, dia e noite, por um noticiário que incriminava muita gente, envolvendo grandes somas de dinheiro público. Na época houve até gente que, para se livrar de perder o mandato, renunciou e saiu pela porta dos fundos do Congresso, esperando que a fraca memória popular os esquecesse até que pudessem voltar aos seus postos.
Então era tudo mentira? Fomos enganados por alguma campanha maléfica engendrada pela mídia? Ou a própria mídia foi enganada por gente muito esperta e usada para espalhar mentiras que abalaram o país?
Senhora ministra-chefe, eu jamais escreveria isso se o assunto não me incomodasse tanto. Entretanto, como tantas outras pessoas, eu me vejo entre duas versões irreconciliáveis sobre um mesmo fato. Espero, sinceramente, que esse assunto venha a ser esclarecido antes das eleições do ano que vem para que eu possa votar com muita consciência.
Sabe, é um voto só, um votinho. Mas é o meu.