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Qualidade de ensino
Começa a época do ano em que os pais decidem em que escola matricularão seus filhos. Verdadeira feira de oportunidades se abre, dificultando a escolha. O que se quer para os filhos é sempre o melhor que, em termos de ensino, se traduz em qualidade.
Mas, o que vem a ser qualidade de ensino, que critérios utilizar para caracterizar uma escola como de boa qualidade? É bom que se diga, como premissa, que hoje em dia a noção de qualidade tornou-se diferente da do passado. De fato, os jovens de hoje parecem já nascer plugados em componentes tecnológicos e dispõem de formas antes não imaginadas de contatos através de redes sociais às quais pertencem. Afora isso, o mundo mudou demais, sendo impressionante a carga de informações disponíveis ao simples toque de um mouse ou através de inúmeros canais de televisão. A massificação da informação, as possibilidades praticamente ilimitadas disponibilizadas pela internet e o acesso a toda sorte de engenhocas eletrônicas, jogos etc. tornaram a antiga sala-de-aula verdadeira peça de museu, muitas vezes chefiada por professores que não acompanham o modo de ser das novas gerações.
Então, como escolher? O primeiro fator a ser levado em consideração é justamente o bom nível dos professores, ainda que estes não se mostrem perfeitamente adaptados às novidades disponíveis. O fator humano é essencial, sempre o será, situando-se acima de todos os outros. Mas há que se verificar se a escola possui meios de utilização dos novos recursos para compor, juntamente com os professores, o quadro essencial que caracteriza a boa qualidade de ensino. Obviamente não se descartam costumes da velha escola como a educação, a disciplina, o ambiente saudável, a preservação de valores morais e o respeito entre todos.
Entretanto é sempre importante lembrar que não basta a disponibilização de recursos avançados quando não se observa preparo e capacitação de pessoal para utilizá-lo. Há escolas que investem em computadores e outros recursos tecnológicos que na verdade são subutilizados ou nem mesmo usados. Servem tais equipamentos como atrativo em épocas de matrículas, mas permanecem sem práticas durante o curso.
Como se sabe infelizmente o nível do ensino no Brasil deixa a desejar fato preocupante e importante na hora de escolher o lugar de matrícula das crianças. Hoje mesmo divulgam-se dados do Ideb (índice de desenvolvimento da educação básica), mostrando que houve redução das notas do Ensino Médio em nove dos estados brasileiros: Acre, Maranhão, Espírito Santo, Pará, Alagoas, Paraná, Paraíba, Bahia e Rio Grande do Sul.
A escolha de uma boa escola para os filhos exige pesquisa e muita atenção em relação a efetivos avanços na área de ensino.
Dia de cassação
Acontece neste momento a sessão do Senado para cassação do senador Demóstenes Torres. Finalmente, porque o episódio do relacionamento do senador com o bicheiro Carlinhos Cachoeira já deu no que tinha que dar. A verdade é que os incautos leitores de jornais e revistas não aguentam mais ler notícias sobre as idas e vindas de Demóstenes, suas desculpas e, principalmente, o triste aspecto de um homem condenado pela opinião pública, mas que insiste em declarar-se inocente.
Poucos políticos deixarão memória tão confusa quanto Demóstenes a quem nos habituamos a ver de dedo em riste, acusando sempre, homem da lei, campeão da moral política. Àquele primeiro Demóstenes simplesmente não é possível sobrepor-se a imagem do segundo, esse que agora inevitavelmente será cassado. Este segundo, o que discursa diante do plenário vazio do Senado não passa de pálida sombra do primeiro, do rompante primeiro que tanta confiança inspirava por suas atuações em vários episódios da política brasileira.
Pois já vai tarde este segundo e verdadeiro Demóstenes de quem o valoroso primeiro nada mais era que uma criação, personagem inventando para encobrir as façanhas do segundo em seus descaminhos realizados em surdina.
Corre por aí que os senadores cassarão Demóstenes porque ele cometeu infração inaceitável no meio político: mentiu a seus pares. Para o povo Demóstenes fez muito mais do que simplesmente trair a confiança: aliou-se ao que de pior existe nos bastidores da politicagem brasileira, partilhou, beneficiado pessoalmente ou não, das tramoias que rendem milhões a espertalhões que se valem da corrupção para enriquecer e comandar verdadeiro exército de infratores.
Já vai mesmo tarde o Demóstenes.
Falta de criatividade?
Você conhece pessoas criativas? Todo mundo tem um pouco de criatividade, mas vez por outra cruzamos com alguém que nos surpreende com seu jeito diferente de ser. Mostra-se capazes de transformar a realidade, construindo ou organizando coisas e situações. Há vários modos de definir criatividade tais como a criação de algo original e único em qualquer terreno das ideias.
Conheço pessoas que reclamam de si mesmas por não se considerarem criativas. O fato é que, talvez por falta de estímulo, acabam levando uma vida mais ou menos óbvia na qual não pontuam nem ao menos por quebrar a rotina com algo de cunho pessoal e interessante. Note-se que a criatividade não requer inteligência excepcional e que algumas pessoas só se mostram criativas trabalhando em grupo.
Obviamente existem pessoas que podem ser consideradas muito acima da média, destacando-se não só pela criatividade, mas, também, pela genialidade. Grandes artistas, músicos escritores, políticos e profissionais de várias áreas destacam-se por suas atuações e obras relevantes. A cultura que conhecemos é resultado da atividade de pessoas que pensaram e se comportaram “além”, criando e deixando obras e conhecimentos que compõem o acervo cultural da humanidade.
Escrevo sobre esse assunto porque nos últimos dias, face a crise econômica mundial, tem-se acusado o governo brasileiro de falta de criatividade na condução da economia do país. De fato, só agora o ministro da Fazenda reconhece publicamente que o país não está imune à crise que devasta as economias europeias. Mais que isso, verifica-se que os resultados obtidos pelo governo na área econômica deixam a desejar, veja-se o andamento do PIB. Além disso, reclama-se a construção de uma agenda com medidas progressivas que incluam a redução de impostos e taxações.
Entretanto, é de se perguntar quem seria o gênio criativo capaz de imprimir verdadeiras mudanças nos rumos da economia do país. De todo modo no cenário atual não se observam talentos criativos capazes para tanto, daí derivando talvez um excesso de cautela e a sensação de que o melhor seja ir conduzindo para ver se os ventos mudam e o grande barco nacional dirija-se para regiões mais tranquilas e produtivas.
Julgadores e julgados
Você acha que alguém que tem pendências com a Justiça pode - ou deve - julgar ou apurar ações de alguém acusado de algum tipo de delito? É provável que a sua opinião coincida com a da maioria das pessoas que acham que não. É de bom senso supor que aquele que julga ou apura contravenções nada deva à Justiça, ou seja, trata-se de pessoa de reputação ilibada pelo menos até que surja alguma prova contrária a isso.
Mas, infelizmente, as coisas não seguem conforme a opinião geral e o bom senso. No momento o país vive mais um dos momentos de inflexão em relação à classe política. Em pauta as misteriosas ações de Carlinhos Cachoeira que, assim parece, comanda vasta rede de negócios relacionados à lavagem de dinheiro. Gravações telefônicas feitas pela Polícia Federal revelam a participação de muita gente de colarinho branco nos negócios de Cachoeira. É daqueles fatos que só não nos estarrecem porque nós, brasileiros, já estamos acostumados a notícias sobre a corrupção que neste país há muito deixou de ser endêmica e passou à condição de epidêmica.
Tal é o estardalhaço que as revelações sobre os negócios de Cachoeira têm causado que não foi possível abafar o caso, instalando-se uma CPI cujos resultados são temidos até pelo governo federal. Se Carlinhos Cachoeira resolver abrir a boca, coisa improvável, aí então o país pode tremer.
Mas, o que chama a atenção na CPI do caso Cachoeira é a composição da equipe escolhida para executá-la. Dos 32 integrantes da comissão escolhida pelo menos 17 têm pendências com a Justiça. Processos criminais, crimes eleitorais, acusações de corrupção e outros deslizes fazem parte da história de muitos dos indicados para a comissão.
Eis ai mais um caso que não nos estarrece porque estamos acostumados a todo tipo de exercício permitido pelas confabulações entre os membros da classe política. Do que se depreende que esteve muitíssimo enganada a norte-americana Hilary Clinton ao declarar, dias atrás, que o atual governo federal estabeleceu um marco no combate à corrupção. Aqui entre nós, o problema é que no Brasil torna-se cada vez mais difícil separar o trigo do joio, o bom do mau político, o corrupto e o que não age corruptamente. No fim das contas prevalecem os tais interesses maiores das agremiações políticas e só os casos realmente indefensáveis apontados pela imprensa acabam recebendo algum tipo de punição.
Mas, como foi dito, estamos acostumados a tudo isso.
Acidentes aéreos
Conheço gente que não entra em avião de jeito nenhum, nem que pague como se diz. Não adianta dizer a elas que a probabilidade de acidentes e mortes no trânsito é maior que em aviões. Estatísticas não contam quando o assunto é estar a 8 mil metros de altura, sem saída caso uma catástrofe aconteça.
Conhecemos bem a história de acidentes aéreos, muitos deles extremamente chocantes. Aquele avião que não parou ao aterrissar na pista de Congonhas, indo bater num prédio, é uma das memórias mais impactantes em relação a desastres aéreos. Toda vez que passo por ali, trafegando pela Av. Rubem Berta, lembro-me de uma mãe que descreveu sua dor ao saber que os corpos de seus dois filhos ardiam em meio às chamas do prédio. Impossível dor maior determinada por alguma falha do piloto, da pista, do controle aéreo, do próprio avião ou o que quer que seja: um detalhe que roubou a vida de muita gente, deixando famílias para sempre traumatizadas.
Agora volta-se a falar do grande acidente ocorrido em 2009, envolvendo avião da Air France. Até hoje não se sabe o que aconteceu porque o avião simplesmente despareceu e, dias depois, pedaços dele foram localizados no mar. Alguns corpos foram então encontrados, mas a maioria deve ter ficado presa ao avião. Desde então famílias reclamam os corpos de seus entes queridos e o mistério persiste. Entretanto, nos últimos dias robôs encontram uma das caixas-pretas do avião e dois corpos foram retirados dos escombros. Das caixas espera-se que tenham se mantido intactas as vozes dos pilotos gravadas e dados que poderão esclarecer o grande mistério que envolve a queda da aeronave. Quanto aos corpos é muito importante que sejam resgatados e identificados, colocando fim ao longo episódio de espera das famílias dos passageiros do fatídico voo.
De todo modo a ação que ora se passa no local em que se encontra o avião envolve aspectos que impressionam. Em primeiro lugar, impressiona muito que vozes desaparecidas há cerca de dois anos sejam recuperadas, retratando os últimos instantes de vidas. Quanto aos corpos é de se pensar nesse longo período em que permaneceram insepultos, presos às poltronas por cintos de segurança, no fundo do mar. Imagino o que seja a atividade dos homens encarregados do resgate, ainda que por meio de braços de robôs.
O mistério que envolve o voo 447 da Air France está para ser esclarecido. Mas não se leem as notícias sobre o que está acontecendo como fato corriqueiro. É impossível não se pensar no desespero que tomou conta dos passageiros em seus últimos momentos e no fato de terem ficado desparecidos por longo tempo. Há nisso algo que ofende a naturalidade com que estamos habituados a encarar os fatos, algo que nos atemoriza e fazemos força para olvidar.
Vida de parlamentar
Será implicância? O fato é que a turma anda de olho no deputado Tiririca. Lê-se que ele empregou humoristas do Programa “A Praça é nossa”. O detalhe é que os dois humoristas receberão R$ 8000,00 mensais, cada um, e ficarão em São Paulo, nada fazendo na capital federal.
Também se lê que o deputado Tiririca pagou um resort, em Fortaleza, com dinheiro público. Destaca-se que o resort se localiza a 3000 km do reduto eleitoral do deputado. Mais: noticia-se que a Sony foi condenada a pagar uma indenização de pouco mais de R$ 1 milhão por ter vendido um disco de Tiririca que contém a música “Veja os cabelos dela” cantada pelo deputado. Considerou-se racista a letra da música daí a condenação da gravadora. Jornalistas estranham não se responsabilizar Tiririca pela gravação.
O deputado Jair Bolsonaro está sendo acusado de homofobia e racismo por declarações feitas no programa CQC. Perguntado por Preta Gil como agiria se o filho se apaixonasse por uma negra ele respondeu:
“Isso nem passa pela minha cabeça. Eles tiveram uma boa educação, com um pai presente. Então, nem corro esse risco”.
Agora todo mundo quer processar Bolsonaro que, de resto, gosta de polêmicas. Mas, no caso de Tiririca vale perguntar se não estão embirrados com ele. Deputado mais votado do país em um Estado que não é o seu de origem, palhaço de profissão, acusado de ser analfabeto funcional, por isso e muito mais Tiririca é notícia. O interessante é que todo mundo sabe o que esperar dele. Obviamente, trata-se de alguém fora de seu nicho, que demorará a entender as limitações impostas pelo cargo que ocupa. Não é ocaso de defendê-lo, afinal trata-se de dinheiro público. Entretanto, nesse caso, parece que, se culpa existe, pertence aos eleitores que puseram Tiririca em Brasília. Ao votar nele, seja por simpatia, descaso ou protesto, os eleitores fizeram uso de seus direitos inalienáveis de escolha. Agora resta ver no que vai dar. Tiririca é uma caixa de surpresas, prato perfeito para a mídia que anda à caça de notícias, melhor ainda se forem espalhafatosas.
Vida de parlamentar não é fácil não, meu amigo, ainda mais se o camarada for despreparado. A coisa só é boa para os profissionais do ramo que não se metem em bobagens como pagar R$ 600,00 em um resort com dinheiro público. Para esses os golpes são grandes, milionários e deles nem sempre recebemos notícias. Veja aí o retorno à ativa da turma do mensalão. Já se anda dizendo que os acusados, agora ocupando cargos importantes, darão a volta por cima. Aí é só esperar gente que deu golpe grande apontar o dedo para a nação dizendo-se injustamente acusados. A nós restará, caso aconteça mesmo, uma revisão no conceito de Justiça.
Livros de Stephen King
Para o escritor argentino Julio Cortázar um conto é verdadeiramente bom quando não nos esquecemos dele. Não sei dizer se o conceito se aplica a romances. Em todo caso, não há como olvidar os enredos de alguns romances de Stephen King.
Stephen King é um mestre do horror, popular em todo o mundo, grande vendedor de livros. Algumas de suas histórias serviram de enredo a filmes. Quem não se lembra de “Carrie, a Estranha”, a menina que acaba com uma festa e mata a maior parte de seus colegas de escola, fazendo uso de seus superpoderes?
O mundo de Stephen King é povoado por acontecimentos extraordinários e seres submetidos a situações nas quais o sobrenatural é a regra do jogo. King é criador que tece devagar e pacenciosamente a teia de fatos normais que conduzem a momentos de grande impacto nos quais o horror é celebrado em toda a sua magnitude. Quem leu “O Iluminado”, sabe perfeitamente como as coisas se passam sob a pena do mestre do horror. O escritor que vai com a família tomar conta de um hotel nas montanhas, durante o inverno, quer apenas reclusão para escrever. Não sabe ele que o hotel é assombrado e que ali conviverá com acontecimentos terríveis que o levarão a, talvez, encontrar-se consigo mesmo.
Nada é por acaso nos textos de King. Como um tecelão que multiplica fios aparentemente disformes em sua máquina, o escritor conduz o leitor através de labirintos para que, ao final, tudo se encaixe num tecido ilógico, mas possível que é a substância do mais puro horror.
Há quem considere as histórias de horror um gênero menor. Críticos importantes chegam a desqualificar a literatura fantástica sem que isso interfira na grande atração que o gênero desperta em leitores e cinéfilos. Entretanto, há que se diferenciar o terror de boa qualidade das produções que abusam de clichês nos quais o maior investimento se dá no sentido de provocar sustos. Infelizmente, a maioria dos filmes de horror produzidos atualmente ressente-se desse mal. Há sempre um corredor escuro e a mulher ou criança desavisada que caminha para receber e transmitir ao espectador o impacto de algo desconhecido e violento.
Não li todos os livros de Stephen King, mas um deles me impressionou bastante. Trata-se de “O Cemitério” história terrível na qual cadáveres enterrados num antigo cemitério ressuscitam. Entretanto, os que voltam da morte não se comportam exatamente como eram quando vivos e nessa direção as situações de horror se adensam, atraindo o leitor.
Em relação a “O Cemitério” pode-se dizer que a ideia não é exatamente original. Um dos mais importantes e melhores contos de horror chama-se “A pata do macaco”, de autoria de W. W. Jacobs. Trata-se de um clássico das histórias de terror na qual um casal de idosos perde um filho em acidente numa mina. As surpresas começam quando o casal recebe a visita de um estranho que dá a eles, de presente, uma pata de macaco. Pode-se dizer que Stephen King inspirou-se na história de Jacobs quando escreveu “O Cemitério”.
O mais recente romance de Stephen King, chama-se “11/22/63”, justamente a data do assassinato do então presidente norte-americano John Kennedy. Em “11/22/63”, um professor de 35 anos de idade viaja no tempo com a intenção de impedir o assassinato de Kennedy. O livro será lançado em novembro nos EUA e não há, por enquanto, previsão de data para que chegue ao Brasil.
O conto “A pata do macaco” faz parte de algumas coletâneas de histórias de terror publicadas no Brasil. Os interessados também podem ler o conto na internet, encontrando-o facilmente com o uso de ferramentas de busca. Quem tiver a oportunidade de ler “A pata do macaco” possivelmente concordará com a classificação de Julio Córtazar para contos verdadeiramente bons porque, certamente, jamais se esquecerá da história do casal que recebe de presente uma pata de macaco.
Segundo turno
O assunto tomará conta dos noticiários nos próximos dias. Cada passo dos dois candidatos à presidência da República será acompanhado por um batalhão de repórteres. Os brasileiros terão uma segunda oportunidade de ponderar sobre os candidatos e seus programas para escolher quem governará o país nos próximos quatro anos.
Durante a campanha o presidente Lula deixou de lado a imagem de paz e amor e atacou a imprensa à qual acusou de partidarismo. Nas hostes do PT um clima de “já ganhou” acrescido da divulgação de escândalos que não puderam ser represados influíram no resultado das eleições. Cansamos de ouvir dizer da imprensa que o presidente não aceita qualquer tipo de crítica que venha a atrapalhar o seu plano sucessório.
Mas, a imprensa foi parcial? O que se viu foi a imprensa se defender acusando o governo de intenções autoritárias e propensão à censura. A preocupação pareceu justa diante de tantas acusações que, afinal, são normais na vigência de regime democrático. Não se pode negar a truculência do governo e mesmo a produção marqueteira de uma candidata que ainda não disse a que veio ou virá. Por outro lado, também não se pode negar o fato de que ao candidato do PSBD faltou clareza de intenções. A campanha de Serra mais pareceu um traçado feito para evitar melindres, como se não se quisesse atordoar o eleitor com dúvidas. Não deu certo e não foram os próprios erros do PT e a eleição já estaria decidida.
Tudo isso é bem sabido por todos, mas não custa repetir. O que não surpreendeu, mas chamou a atenção na noite de ontem, foi a incontida satisfação dos comentaristas políticos em relação ao resultado da eleição para presidente. Não se pode generalizar, mas havia um sorriso maroto no canto dos lábios dos comentaristas, espécie de desforra contra os ataques do governo à imprensa. A imagem de Dilma decepcionada ao lado de um lívido Temer foram objeto de comentários aparentemente isentos, mas carregados de sarcasmo.
Esse é o preço que se paga pelos exageros e desrespeito à inteligência dos brasileiros. Se Dilma quiser mesmo ganhar as eleições terá que se lembrar de que nem todos os brasileiros pararam seus estudos no primeiro grau e que a inteligência é algo a se respeitar. Do lado de Serra é preciso que, com urgência, mude a sua campanha e traga de volta ao primeiro plano realizações incontestes de seu partido como o Plano Real. Não há que se esconder o passado ou temer comparações. É hora de abrir o jogo, jogar o jogo como dizia o antigo técnico de futebol, Oswaldo Brandão.
Um sujeito teimoso
Contam que quando ele nasceu já veio à luz de mal com o mundo. Eu que o conheci bem garanto que nunca vi ninguém como ele. Baixinho, robusto sem ser gordo, medíocre ciente da própria mediocridade, agia em conformidade com o seu perfil. Desde sempre foi entrave a tudo, desses que discordam pelo simples exercício de discordar, não interessando a ele ter ou não razão. Agindo assim, ganhou fama de teimoso, aliás, de modo algum imerecida: teimava por profissão, opunha-se a tudo, nisso a essência dele de ser.
Mas não era, não, mau sujeito. Bom conversador, até educado, pertencia ao time dos que não têm time, ou seja, dos que atuam por instinto próprio, jamais coletivo.
Chamava-se Manoel e, a bem dizer, era um cara do contra. Quando se queria alguma coisa dele o melhor era mostrar-se contrário ao que se pretendia, jeito eficaz de fazê-lo executar algo às vezes urgente. Exemplifico: a mãe do Manoel tinha um cinema pequeno, coisa bem simples dotada de velha máquina de projeção e bancos de madeira para assento dos espectadores. Era um cineminha muito pobre e desconjuntado no qual se exibiam películas aos sábados e domingos, em todo caso única diversão de um lugarejo de chão de terra. Nesse cinema acontecia quase sempre do celulóide dos filmes se arrebentar, sendo necessário colá-lo para continuar com a projeção.
Era aí, na ruptura do celulóide, que entrava a figura do Manoel porque só ele sabia como resolver o problema, ligando as partes separadas para fazer a alegria do público que, acostumado a isso, pacientemente aguardava pelo reinício do filme. Pois o que todo mundo sabia é que não se podia pedir ao Manoel que resolvesse o problema. Ao contrário, o que a mãe do baixinho fazia era esperar bem uns dez minutos para, então, falar com ele dizendo que fora bom a fita romper-se, já estava cansada mesmo, o público que fosse embora etc. Então, o Manoel, que era do contra, ia lá e consertava tudo, só para contrariar a mãe. Por essa via fazia-se a alegria dos espectadores que recebiam a graça de poder assistir ao filme inteiro.
Esse Manoel teimoso viveu até a semana passada quando, já muito velho, partiu desta para a melhor. Eu soube da morte dele dias depois e não pude deixar de me lembrar dos meus tempos de menino naquele cinema de fim de mundo, onde assisti aos seriados do Flash Gordon e a muitos filmes em preto-e-branco. Voltaram-me imagens de noites geladas nas quais, às 7h30, um alto-falante repetia tristemente os acordes de uma música orquestrada, aviso inconfundível de que às 8h seria iniciada a sessão do cinema.
Eu pensava nisso, distraído, e ia de pés descalços para o cinema quando vi o Manoel na esquina da casa dele, fumando um cigarro. Ao vê-lo me perguntei se naquela noite, caso o celulóide arrebentasse, ele iria lá para juntar as partes, dando-nos a alegria de ver o filme até o fim. Depois eu me perdi dessas imagens e deixei de ser menino para estar aqui escrevendo sobre o Manoel, ele que morreu e deixou como legado histórias de celulóides partidos, ele que talvez, mesmo morto, tenha se estranhado com o caixão porque essa era a natureza dele, nascido que foi na forja do contra, daí que nada impediria de continuar fiel a si mesmo na hora de sua última despedida.
A colher de cada um
Não adianta: Copa em andamento, não se fala noutra coisa, o assunto é futebol. De repente a bola governa os interesses, resultados de jogos calam fundo na opinião. Ninguém está livre, mesmo os que detestam futebol tal a pressão do tema em todos os meios de comunicação.
A Copa do Mundo desperta toda sorte de análises e comentários. Existe o caso – específico – dos profissionais que ganham a vida escrevendo ou narrando coisas do esporte. São jornalistas esportivos de ofício e todo mundo sabe o que deles se espera, alguns mais lúcidos, outros menos dotados e uns poucos até obtusos. Isso sem falar nos narradores de jogos pela televisão e pelo rádio, alguns deles bastante criticados. Ao titular da Globo, Galvão Bueno, os críticos não perdoam os excessos de ufanismo. Mas o Galvão parece não ligar: ele é do jeito que todo mundo sabe, mudar seria bobagem.
O mais impressionante fica por conta de gente subitamente convertida em analista esportivo. Trata-se de pessoas que normalmente não trabalham na área, mas que na época de Copas se arvoram entendidos. Meu amigo, se duvida, abra os jornais deste domingo: encontrará análises variadas sobre o futebol em si, as circunstâncias que o cercam, a importância do esporte, o esporte como traço de identidade nacional, as relações entre o futebol e o samba como expressões culturais, o papel da mestiçagem na formação dos craques nacionais, o complexo de vira-lata, a inesquecível tragédia de 1950 e por aí afora.
Nada demais nisso tudo, não fossem as impropriedades publicadas no calor da hora, no afã de participar de uma imensa cobertura que cubra todos os aspectos da competição. Entre as impropriedades talvez a pior seja a relacionada com a atual situação da África do Sul, país sede da Copa e nem por isso livre de grandes problemas e tensões internas. Não faltam na imprensa sociólogos de última hora interessados em retratar a realidade sul-africana, dimensionando-a em acordo com as necessidades de suas reportagens..
Meu amigo, a Copa do Mundo é um vendaval de impressões e notícias. As fantásticas ferramentas tecnológicas utilizadas para a cobertura do evento abrem um leque praticamente infinito de possibilidades para apresentações. Disso tudo o melhor fica por conta das mais de trinta câmeras utilizadas para a transmissão dos jogos. As imagens, tomadas de diferentes ângulos e em alta resolução, são realmente espetaculares. Olhe que ficam bem melhores quando se tira o som da televisão para escapar de algumas narrações e do chatíssimo e insuportável barulho de fundo provocado pelas vuvuzelas.
Esse pequeno artigo não pretende isentar-se das críticas nele contidas. Ele não passa de mais um escrito “no afã de participar da imensa cobertura”.