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Dia da mentira
No lugarejo de uma rua só havia um rapazote que atendia pela alcunha de “Coelho”. O Coelho não fazia nada, que se saiba nunca trabalhou. Errava pela rua em idas e vindas ao acaso, parando aqui e acolá para dois dedos de prosa. Sempre mal vestido, sujo mesmo, não regulava o hábito de cortar as unhas. Eram compridas as unhas do Coelho fato que fazia dele moleque temido caso houvesse alguma briga.
Da família do Coelho pouco se sabia. Tinha ele um irmão, o “Antônio Coruja”. Esse Coruja merecera o apelido por ser um sujeito soturno cujos olhos grandes demais faziam lembrar a ave noturna. Mas, o Coruja era bem mais composto que o irmão. Ajudava na construção, ora prestava pequenos serviços. Não destoava do grupo local de pessoas pelas quais era bem recebido.
Certo dia o Coelho correu de fora a fora da única rua, avisando que Frederico, o Velho, proprietário da loja de roupas, estava à morte porque engolira a dentadura. O Velho sufocara-se ao colocá-la na boca, de manhãzinha, logo depois de acordar. O Coelho parava de porta em porta e avisava sobre a morte iminente do Velho.
Dado o alarme, as pessoas acorreram à frente da casa do Velho em busca de notícias. Não demorou muito para que o Velho surgisse à janela, muito bem de saúde, e desfizesse a mentira do rapazote. Só então as pessoas se deram conta de que estava-se em pleno 1º de abril.
Consta que o “Dia da mentira” surgiu na França. No século XVI o novo era festejado em 25 de março e as festas só terminavam no 1º de abril. Quando da adoção do Calendário Gregoriano o ano novo passou a ser comemorado no dia 1º de janeiro. Entretanto, alguns franceses continuaram a seguir o antigo calendário pelo que gerou-se o hábito de enviar a eles presentes estranhos e convites para festas que não aconteceriam. Nasceu assim o “Dia da Mentira”.
Hoje vive-se num prolongado “Dia da mentira” que parece durar o ano todo. Diariamente recebemos notícias tenebrosas sobre a corrupção no país seguidas de negativas, obviamente mentirosas. Ninguém sabe de nada, ninguém participou de nada etc. Bilhões são desviados sem que existam responsáveis pelos desvios.
Mentir a granel, eis a nova fase do novo e prodigioso “Dia da mentira”.