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Morangos silvestres
Os 100 anos do cineasta sueco Ingmar Bergman são comemorados em todo o mundo. Retrospectivas de suas obras são realizadas em cinemas e na televisão. Mais uma vez o mundo se rende à genialidade do grande cineasta.
Se bem me lembro eu teria uns 15 anos quando vi, pela primeira vez, o filme “Morangos Silvestres”. Eu já ouvira comentários sobre o filme em conversas de familiares. De modo que havia a natural curiosidade sobre um filme considerado fantástico. Entretanto, confesso a minha decepção ao assistir ao filme: a trajetória do médico, Dr Isac Borg, que viaja de carro para receber um título honorário na cidade de Lund, pareceu-me algo incompreensível. Debito a estranheza em relação ao filme à minha mocidade: pesou-me, na ocasião, a falta de sensibilidade em relação a um roteiro sobre o tempo. Porque é em relação ao tempo passado, aos fatos anteriormente vividos, que se desenrola a aventura do Dr. Borg.
Ainda hoje se assiste a “Morangos Silvestres” com espanto. Isac acorda certa manhã após ter um sonho no qual anda por uma rua vazia na qual encontra um relógio sem ponteiros. De repente, passa por ele um carro funerário que, acidentalmente, perde uma roda. O caixão cai e se abre, causando espanto a Isac ao reconhecer o morto.
Mas, aproxima-se a ocasião do recebimento do título e Isac decide viajar de carro. É acompanhado por sua nora, Marianne Borg , mas outras pessoas se juntam a eles durante o trajeto. É a partir daí que realidade e sonhos se confundem. Fazendo uso de flashbacks Bergman refaz o passado do médico que revê pessoas e situações vividas por ele.
O filme nos leva a refletir sobre o passado, nossos tão humanos erros e acertos. A vida de Isac se reconstrói num ambiente de sonhos nos quais seus atos, mesmo os inconfessáveis, são revividos com intensidade dramática. Ele torna-se um observador de si mesmo, preso aos percursos gravados em sua memória.
Há quem considere “Morangos Silvestres” a obra máxima de Bergman. Filmado em 1957 “Morangos Silvestre” recebeu prêmios e ainda hoje se mantêm como um dos melhores filmes já realizados. Begman dizia que a cena final, na qual Isac observa seus pais perto de um rio, foi uma das mais belas que conseguiu filmar.
Há encanto e magia nessa incursão de um idoso ao passado, convidando-nos a uma revisão de nossas próprias trajetórias. O tempo passa, irreversivelmente, e nossas ações se juntam num emaranhado de ações que, bem ou mal, constituem-se em nossas trajetórias ao longo da vida.